Page 105 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 105
O olhar de Bellamy exibiu ao mesmo tempo decepção e intensidade, tornando o ceticismo de
Langdon ainda mais constrangedor.
— Sim, professor, eu já imaginava que o senhor fosse pensar assim, por isso eu não deveria
ficar surpreso. O senhor é uma pessoa de fora olhando para dentro. Existem determinadas realidades
maçônicas que irá perceber como mitos, porque não foi devidamente iniciado nem está preparado para
compreendê-las.
Langdon sentiu que estava sendo tratado feito criança. Eu não fiz parte da tripulação de
Odisseu, mas tenho certeza de que os ciclopes são um mito.
— Sr. Bellamy, mesmo que a lenda seja verdade... esta pirâmide aqui não pode ser a Pirâmide
Maçônica.
— Não? — Bellamy correu um dedo pela inscrição maçônica na pedra. — Parece-me que ela
corresponde perfeitamente à descrição. Uma pirâmide de pedra com um cume de metal brilhante que,
segundo o raio X de Sato, é exatamente o que Peter lhe confiou. — Bellamy apanhou o pequeno
embrulho em forma de cubo, sopesando-o.
— Esta pirâmide de pedra tem cerca de 30 centímetros de altura — rebateu Langdon. — Todas
as versões da história que já escutei descrevem a Pirâmide Maçônica como enorme.
Bellamy claramente já tinha pensado nisso.
— Como o senhor sabe, a lenda se refere a uma pirâmide tão alta que Deus em pessoa pode
estender a mão para tocá-la.
— Exato.
— Entendo seu dilema, professor. Apesar disso, tanto os Antigos Mistérios quanto a filosofia
maçônica celebram o potencial divino dentro de cada um de nós. Simbolicamente falando, seria
possível afirmar que qualquer coisa ao alcance de um homem esclarecido.., está ao alcance de Deus.
Langdon não se deixou abalar pelo jogo de palavras.
— Até mesmo a Bíblia confirma isso — disse Bellamy. — Se aceitarmos, como diz o Gênesis,
que “Deus criou o homem à Sua imagem”, então também devemos aceitar as implicações disso: ou
seja, que a humanidade não foi criada inferior a Deus. Em Lucas 17:21, podemos ler que “O reino de
Deus está entre vós”.
— Desculpe, mas não conheço nenhum cristão que se considere igual a Deus.
— Claro que não — disse Bellamy em tom mais duro. — Porque a maioria dos cristãos quer o
melhor dos dois mundos. Eles querem poder declarar orgulhosamente que creem na Bíblia, mas
simplesmente preferem ignorar as partes que consideram difíceis ou inconvenientes demais para
acreditar.
Langdon não respondeu nada.
— De toda forma — disse Bellamy —, quanto à descrição secular da Pirâmide Maçônica como
alta o suficiente para poder ser tocada por Deus, ela levou a várias interpretações equivocadas em
relação ao seu tamanho. Convenientemente, isso faz acadêmicos como o senhor seguirem insistindo
que a pirâmide é uma lenda, então ninguém a procura.
Langdon baixou os olhos para a pirâmide de pedra.
— Desculpe se estou decepcionando o senhor — disse ele. — Mas é que sempre pensei na
Pirâmide Maçônica como um mito.
— Não lhe parece perfeitamente apropriado que um mapa criado por pedreiros esteja gravado
em pedra? Ao longo da história, nossas diretrizes mais importantes sempre foram gravadas em pedra,
incluindo a tabuleta entregue por Deus a Moisés: 10 Mandamentos para guiar a conduta humana.
— Entendo, mas, mesmo assim, todas as referências são sempre à lenda da Pirâmide
Maçônica. Lenda pressupõe que seja um mito.
— Sim, lenda. — Bellamy deu uma risadinha. — Temo que o senhor esteja com o mesmo
problema que Moisés enfrentou.
— Como assim?
Bellamy parecia estar quase achando graça ao se virar na cadeira e erguer os olhos para a
segunda galeria, onde 16 estátuas de bronze os espiavam lá de cima.
— Está vendo Moisés?
Langdon olhou para a famosa estátua de Moisés da biblioteca.
— Estou.
— Ele tem chifres.
— Eu sei disso.
— Mas sabe por que ele tem chifres?
Como a maioria dos professores, Langdon não gostava de levar sermão, O Moisés acima deles
tinha chifres pela mesma razão que milhares de imagens cristãs de Moisés tinham chifres — um erro de