Page 16 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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formato parecia o de uma montanha. Era uma construção espantosa. A pouco mais de 90 metros de
altura do chão, a estátua Liberdade Armada fitava a escuridão enevoada como uma sentinela
fantasmagórica. Langdon sempre achara irônico o fato de os trabalhadores que haviam erguido cada
pedaço da estátua de bronze de seis metros até lá em cima terem sido escravos — um segredo do
Capitólio que raramente constava do currículo das aulas de História do ensino médio.
Na verdade, todo aquele prédio era uma mina de ouro de mistérios bizarros, que incluíam uma
“banheira da morte” responsável pelo “assassinato” por pneumonia do vice-presidente Henry Wilson,
uma escadaria com uma mancha de sangue indelével na qual um número exagerado de Visitantes
parecia tropeçar, e uma câmara lacrada no subsolo dentro da qual, em 1930, trabalhadores
descobriram o falecido cavalo empalhado do general John Alexander Logan.
Mas nenhuma lenda era tão longeva quanto os 13 fantasmas que supostamente assombravam o
prédio. Muitos diziam que o espírito do arquiteto da cidade, Pierre L’Enfant, perambulava pelos salões
tentando receber seus honorários, a essa altura 200 anos atrasados. O fantasma de um operário que
caíra da cúpula do Capitólio durante a construção era visto vagando pelos corredores com uma caixa de
ferramentas. E, é claro, a mais famosa aparição de todas, que teria sido vista diversas vezes no subsolo
do Capitólio — um gato preto efêmero que percorria o sinistro labirinto de passagens estreitas e
cubículos da subestrutura.
Langdon saiu da escada rolante e tornou a verificar as horas. Três minutos. Percorreu apressado
o corredor amplo, seguindo as placas que indicavam o Salão das Estátuas e ensaiando mentalmente as
palavras inaugurais. Precisava admitir que o assistente de Peter tinha razão; o tema de sua palestra era
perfeitamente adequado a um evento organizado em Washington por um célebre maçom.
Não era nenhum segredo a capital norte-americana ter uma rica história maçônica. A própria
pedra angular daquele prédio havia sido assentada por George Washington em pessoa durante um
ritual completo de Maçonaria. A cidade fora concebida e projetada por mestres maçons — George
Washington, Benjamin Franklin e Pierre L’Enfant —, mentes poderosas que enfeitaram sua nova capital
com simbolismo, arquitetura e arte maçônicas.
As pessoas, é claro, projetam nesses símbolos todo tipo de ideias malucas.
Muitos teóricos da conspiração alegam que os pais fundadores dos Estados Unidos esconderam
poderosos segredos e mensagens simbólicas no desenho das ruas de Washington. Langdon nunca deu
importância a isso. Informações equivocadas sobre os maçons eram tão comuns que mesmo alunos de
Harvard pareciam ter noções surpreendentemente distorcidas a respeito da irmandade.
No ano anterior, um calouro havia entrado na sala de aula com os olhos esbugalhados, trazendo
uma página impressa da internet. Era um mapa da capital no qual determinadas ruas haviam sido
destacadas para formar diversos desenhos — pentáculos satânicos, um esquadro e um compasso
maçônicos, a cabeça de Baphomet , provando aparentemente que os maçons que projetaram
Washington estavam envolvidos em algum tipo de conspiração obscura e mística.
— Interessante — disse Langdon —, mas está longe de ser convincente. Se você traçar um
número suficiente de linhas de interseção em um mapa, obrigatoriamente vai encontrar todo tipo de
forma.
— Mas não pode ser coincidência! — exclamou o aluno.
Com paciência, Langdon lhe mostrou que as mesmas formas podiam ser desenhadas em um
mapa de Detroit.
O rapaz pareceu profundamente desapontado.
— Não desanime — disse Langdon. — Washington de fato tem alguns segredos incríveis.., só
que nenhum deles está neste mapa.
O jovem se empertigou.
— Segredos? De que tipo?
— Toda primavera, eu dou um curso chamado Símbolos Ocultos, Falo muito sobre a capital.
Você deveria se matricular.
— Símbolos ocultos! — O calouro pareceu novamente animado. — Então existem mesmo
símbolos demoníacos na capital!
Langdon sorriu.
— Desculpe, mas a palavra oculto, apesar de remeter a imagens de adoração ao demônio, na
verdade significa “escondido” ou “velado” Em épocas de opressão religiosa, todo conhecimento que
contrariasse a doutrina tinha de ser escondido ou “oculto” e, como a Igreja se sentia ameaçada por isso,
redefiniu tudo o que fosse “oculto” como uma coisa má, e o preconceito perdurou.
— Ah. — O rapaz encurvou os ombros.