Page 17 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 17

Ainda assim, naquela primavera, Langdon reconheceu o rapaz sentado na primeira fila em meio
          aos 500 alunos que enchiam o Teatro Sanders de Harvard, uma antiga sala de conferências cheia de
          ecos, com assentos de madeira que rangiam.
                 — Bom dia a todos — exclamou de cima do grande tablado. Ligou um projetor de slides, e uma
          imagem se materializou às suas costas. — Enquanto se acomodam, quantos de vocês reconhecem o
          prédio desta foto?
                 — O Capitólio dos Estados Unidos! — ecoaram em uníssono dezenas de vozes.
                 — Em Washington!
                 —  Isso  mesmo.  Há  mais  de  quatro  milhões  de  quilos  de  ferro  nessa  cúpula.  Um  feito
          incomparável de engenhosidade arquitetônica para os anos 1850.
                 — Surreal! — gritou alguém.
                 Langdon revirou os olhos, desejando que alguém banisse aquela expressão.
                 — Muito bem, e quantos de vocês já foram a Washington?
                 Umas poucas mãos se levantaram.
                 — Só isso? — Langdon fingiu surpresa. — E quantos de vocês já foram a Roma, Paris, Madri ou
          Londres?
                 Quase todas as mãos da sala se levantaram.
                 Como sempre. Um dos ritos de passagem para os universitários norte-americanos era viajar de
          trem pela Europa nas férias de verão antes de encarar a dura realidade da vida.
                 — Parece que há mais gente aqui que já visitou a Europa do que a sua própria capital. Qual a
          explicação para isso?
                 — Na Europa não existe idade mínima para beber! — gritou alguém no fundo da sala.
                 Langdon sorriu.
                 — E por acaso a idade mínima daqui impede algum de vocês de beber?
                 Todos riram.
                 Era o primeiro dia de aula, e os alunos estavam demorando mais do que de costume para se
          acomodarem,  remexendo-se  e  fazendo  ranger  os  bancos  de  madeira.  Langdon  adorava  lecionar
          naquela  sala  porque  podia  medir  o  grau  de  interesse  da  turma  escutando  quanto  as  pessoas  se
          agitavam nos bancos.
                 — Falando sério — disse Langdon —, a arquitetura, a arte e o simbolismo de Washington estão
          entre os mais interessantes do mundo. Por que vocês cruzam o oceano antes de visitar a sua própria
          capital?
                 — As coisas mais antigas são mais legais — disse alguém.
                 —  E  por  coisas  antigas  —  esclareceu  Langdon  —  suponho  que  você  queira  dizer  castelos,
          criptas, templos, esse tipo de coisa?
                 Cabeças aquiesceram simultaneamente.
                 — Muito bem. Mas e se eu dissesse a vocês que Washington tem todas essas coisas? Castelos,
          criptas, pirâmides, templos.., está tudo lá.
                 Os rangidos diminuíram.
                 — Meus amigos — disse Langdon, baixando a voz e avançando até a beira do tablado —, ao
          longo da próxima hora, vocês vão descobrir que o nosso país transborda de segredos e de histórias
          ocultas.  E,  exatamente  como  na  Europa,  todos  os  melhores  segredos  estão  escondidos  à  vista  de
          todos.
                 Os bancos de madeira silenciaram por completo.
                 Pronto.
                 Langdon diminuiu as luzes e passou para o slide seguinte.
                 — Quem pode me dizer o que George Washington está fazendo aqui?
                 O  slide  era  de  um  conhecido  mural  que  mostrava  George Washington  vestido  com  os  trajes
          completos  de  um  maçom,  parado  diante  de  uma  estranha  engenhoca  —  um  gigantesco  tripé  de
          madeira com um sistema de cordas e polias, no qual estava suspenso um imenso bloco de pedra. Um
          grupo de espectadores bem-vestidos o rodeava.
                 — Levantando esse grande bloco de pedra? — arriscou alguém.
                 Langdon não disse nada, pois preferia, sempre que possível, que algum outro aluno fizesse a
          correção.
                 — Na verdade — sugeriu outro aluno —, acho que Washington está baixando a pedra.
          Ele  está  vestido  com  trajes  maçônicos.  Já  vi  imagens  de  maçons  assentando  pedras  angulares.  Na
          cerimônia sempre tem essa espécie de tripé para colocar a primeira pedra.
                 — Excelente — disse Langdon. — O mural mostra o pai do nosso país usando um tripé e uma
          polia para assentar a pedra angular do Capitólio em 18 de setembro de 1793, entre 11h15 e 12h30. —
   12   13   14   15   16   17   18   19   20   21   22