Page 235 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 235
— Quem fez isso foi você! — sibilou o homem. — Você forçou seu filho a fazer uma escolha
impossível! Está lembrado daquela noite? Riqueza ou saber? Aquela foi a noite em que você me
afastou para sempre. Mas eu voltei, pai... e hoje é a sua vez de escolher. Zachary ou Katherine? Qual
dos dois vai ser? Você vai matar seu filho para salvar sua irmã? Ou vai matar seu filho para salvar sua
irmandade? Seu país? Ou vai esperar até ser tarde demais? Até Katherine morrer... o vídeo ser
divulgado... e você ter de passar o resto da vida sabendo que poderia ter evitado essas tragédias? O
tempo está se esgotando. Você sabe o que deve ser feito.
O coração de Peter doía. Você não é Zachary, disse ele a si mesmo. Zachary morreu muito,
muito tempo atrás. O que quer que você seja... e de onde quer que tenha saído... não foi de mim. E,
embora Peter Solomon não acreditasse naquelas palavras, sabia que precisava fazer uma escolha.
Não havia mais tempo.
Encontre a Grande Escadaria!
Robert Langdon disparava por corredores escuros, serpenteando em direção ao centro do
prédio. Turner Simkins seguia em seu encalço. Como Langdon esperava, os dois irromperam no átrio
principal do templo.
Com oito colunas dóricas de granito verde, o átrio parecia um sepulcro híbrido — a um só tempo
grego, romano e egípcio — com estátuas de mármore negro, lustres que lembravam piras ardentes,
cruzes teutônicas, medalhões da fênix de duas cabeças e arandelas ornadas com a cabeça de Hermes.
Langdon se virou e correu em direção à grandiosa escadaria de mármore depois do átrio.
— Essa escada conduz diretamente à Sala do Templo — sussurrou ele enquanto os dois subiam
os degraus o mais rápido e silenciosamente possível.
No primeiro patamar, Langdon se viu frente a frente com um busto de bronze do ilustre maçom
Albert Pike, acompanhado por uma inscrição de sua mais famosa frase: O QUE FIZEMOS APENAS
POR NÓS MESMOS MORRE CONOSCO. O QUE FIZEMOS PELOS OUTROS E PELO MUNDO
PERMANECE E É IMORTAL.
Mal’akh havia percebido uma mudança palpável na atmosfera da Sala do Templo, como se toda
a frustração e toda a dor de Peter Solomon tivessem vindo à tona... e se concentrado nele como um
raio laser.
Sim... chegou a hora.
Peter Solomon tinha se levantado da cadeira de rodas e estava agora em pé diante do altar,
segurando a faca.
— Salve Katherine — instigou Mal’akh, recuando de modo a atrair o pai para o altar e, depois,
reclinando o próprio corpo sobre a mortalha branca que havia preparado. — Faça o que tem que fazer.
Como em um pesadelo, Peter se aproximou devagar.
Deitado de costas, Mal’akh ergueu os olhos para a lua de inverno visível através da claraboia. O
segredo é saber como morrer. Aquele instante não poderia ser mais perfeito. Adornado com a Palavra
Perdida ancestral, eu me ofereço por meio da mão esquerda de meu pai. Mal’akh respirou fundo.
Recebei-me, demônios, pois este é meu corpo que será entregue a vós.
Erguendo-se acima de Mal’akh, Peter Solomon tremia. Seus olhos banhados de lágrimas
brilhavam com desespero, indecisão, angústia. Ele olhou uma última vez para o laptop conectado ao
modem do outro lado da sala.
— Tome sua decisão — sussurrou Mal’akh. — Liberte-me da minha carne. Deus quer isso. Você
quer isso. — Ele estendeu os braças do longo do corpo e arqueou o peito para a frente, oferecendo a
magnífica fênix de duas cabeças em sacrifício. Ajude-me a me livrar do corpo que veste minha alma.
Os olhos marejados de Peter pareciam atravessar Mal’akh, como se nem mesmo o vissem.
— Eu matei sua mãe! — sussurrou Mal’akh. — Matei Robert Langdon! Estou matando sua irmã!
Estou destruindo sua irmandade! Faça o que tem que fazer!
O semblante de Peter Solomon se contorceu em uma máscara de pesar e arrependimento
absolutos. Inclinando a cabeça para trás, ele soltou um grito angustiado ao mesmo tempo que erguia a
faca no ar.
Robert Langdon e o agente Simkins chegaram ofegantes diante das portas da Sala do Templo
na mesma hora em que um grito de gelar o sangue irrompeu lá de dentro. Era a voz de Peter. Langdon
tinha certeza.
Seu grito era de completa agonia.
Cheguei tarde demais!
Ignorando Simkins, Langdon agarrou as maçanetas e escancarou as portas. A cena aterradora à
sua frente confirmou seus piores temores. Ali, no centro da câmara mal iluminada, um homem de
cabeça raspada e túnica preta estava em pé diante do grande altar, com uma faca na mão.