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— Quem fez isso foi você! — sibilou o homem. — Você forçou seu filho a fazer uma escolha
          impossível!  Está  lembrado  daquela  noite?  Riqueza  ou  saber?  Aquela  foi  a  noite  em  que  você  me
          afastou para sempre. Mas eu voltei, pai... e hoje é a sua vez de escolher. Zachary ou Katherine? Qual
          dos dois vai ser? Você vai matar seu filho para salvar sua irmã? Ou vai matar seu filho para salvar sua
          irmandade?  Seu  país?  Ou  vai  esperar  até  ser  tarde  demais?  Até  Katherine  morrer...  o  vídeo  ser
          divulgado... e você ter de passar o resto da vida sabendo que poderia ter evitado essas tragédias? O
          tempo está se esgotando. Você sabe o que deve ser feito.
                 O coração de Peter doía. Você não é Zachary, disse ele a si mesmo. Zachary morreu muito,
          muito tempo atrás. O que quer que você seja... e de onde quer que tenha saído... não foi de mim. E,
          embora Peter Solomon não acreditasse naquelas palavras, sabia que precisava fazer uma escolha.
                 Não havia mais tempo.
                 Encontre a Grande Escadaria!
                 Robert  Langdon  disparava  por  corredores  escuros,  serpenteando  em  direção  ao  centro  do
          prédio. Turner Simkins seguia em seu encalço. Como Langdon esperava, os dois irromperam no átrio
          principal do templo.
                 Com oito colunas dóricas de granito verde, o átrio parecia um sepulcro híbrido — a um só tempo
          grego, romano e egípcio — com estátuas de mármore negro, lustres que lembravam piras ardentes,
          cruzes teutônicas, medalhões da fênix de duas cabeças e arandelas ornadas com a cabeça de Hermes.
                 Langdon se virou e correu em direção à grandiosa escadaria de mármore depois do átrio.
                 — Essa escada conduz diretamente à Sala do Templo — sussurrou ele enquanto os dois subiam
          os degraus o mais rápido e silenciosamente possível.
                 No primeiro patamar, Langdon se viu frente a frente com um busto de bronze do ilustre maçom
          Albert Pike, acompanhado por uma inscrição de sua mais famosa frase: O QUE FIZEMOS APENAS
          POR  NÓS  MESMOS  MORRE  CONOSCO.  O  QUE  FIZEMOS  PELOS  OUTROS  E  PELO  MUNDO
          PERMANECE E É IMORTAL.

                 Mal’akh havia percebido uma mudança palpável na atmosfera da Sala do Templo, como se toda
          a frustração e toda a dor de Peter Solomon tivessem vindo à tona... e se concentrado nele como um
          raio laser.
                 Sim... chegou a hora.
                 Peter Solomon tinha se levantado da cadeira de rodas e estava agora em pé diante do altar,
          segurando a faca.
                 — Salve Katherine — instigou Mal’akh, recuando de modo a atrair o pai para o altar e, depois,
          reclinando o próprio corpo sobre a mortalha branca que havia preparado. — Faça o que tem que fazer.
                 Como em um pesadelo, Peter se aproximou devagar.
                 Deitado de costas, Mal’akh ergueu os olhos para a lua de inverno visível através da claraboia. O
          segredo é saber como morrer. Aquele instante não poderia ser mais perfeito. Adornado com a Palavra
          Perdida  ancestral,  eu  me  ofereço  por  meio  da  mão  esquerda  de  meu  pai.  Mal’akh  respirou  fundo.
          Recebei-me, demônios, pois este é meu corpo que será entregue a vós.
                 Erguendo-se  acima  de  Mal’akh,  Peter  Solomon  tremia.  Seus  olhos  banhados  de  lágrimas
          brilhavam com desespero, indecisão, angústia. Ele olhou uma última vez para o laptop conectado ao
          modem do outro lado da sala.
                 — Tome sua decisão — sussurrou Mal’akh. — Liberte-me da minha carne. Deus quer isso. Você
          quer isso. — Ele estendeu os braças do longo do corpo e arqueou o peito para a frente, oferecendo a
          magnífica fênix de duas cabeças em sacrifício. Ajude-me a me livrar do corpo que veste minha alma.
                 Os olhos marejados de Peter pareciam atravessar Mal’akh, como se nem mesmo o vissem.
                 — Eu matei sua mãe! — sussurrou Mal’akh. — Matei Robert Langdon! Estou matando sua irmã!
          Estou destruindo sua irmandade! Faça o que tem que fazer!
                 O  semblante  de  Peter  Solomon  se  contorceu  em  uma  máscara  de  pesar  e  arrependimento
          absolutos. Inclinando a cabeça para trás, ele soltou um grito angustiado ao mesmo tempo que erguia a
          faca no ar.
                 Robert Langdon e o agente Simkins chegaram ofegantes diante das portas da Sala do Templo
          na mesma hora em que um grito de gelar o sangue irrompeu lá de dentro. Era a voz de Peter. Langdon
          tinha certeza.
                 Seu grito era de completa agonia.
                 Cheguei tarde demais!
                 Ignorando Simkins, Langdon agarrou as maçanetas e escancarou as portas. A cena aterradora à
          sua  frente  confirmou  seus  piores  temores.  Ali,  no  centro  da  câmara  mal  iluminada,  um  homem  de
          cabeça raspada e túnica preta estava em pé diante do grande altar, com uma faca na mão.
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