Page 238 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 238
rosa dos rosa-cruzes, o instante da Criação, o Todo, o domínio do sol astrológico e até mesmo o olho
onisciente que tudo vê a flutuar no topo da Pirâmide Inacabada.
O circumponto. O símbolo da Fonte. A origem de todas as coisas.
Era isso que Peter Solomon havia lhe contado pouco antes. Mal’akh no início se mostrara cético,
porém, quando tornou a olhar para a grade, percebeu que a imagem da pirâmide apontava diretamente
para o símbolo específico do circumponto — um círculo com um pontinho no meio. A Pirâmide
Maçônica é um mapa, pensou ele, que aponta para a Palavra Perdida. Parecia que, no fim das contas,
seu pai estava dizendo a verdade.
Todas as grandes verdades são simples.
A Palavra Perdida não é uma palavra... é um símbolo.
Ansioso, Mal’akh havia tatuado o grande símbolo do circumponto no próprio couro cabeludo. Ao
fazê-lo, sentira uma onda de poder e satisfação. Minha obra-prima e minha oferenda estão completas.
As forças da escuridão o aguardavam. Ele seria recompensado por seu trabalho. Aquele seria seu
instante de glória...
Mas, no último segundo, tudo saíra terrivelmente errado.
E lá estava Peter, ainda atrás dele, dizendo palavras que Mal’akh mal conseguia apreender.
— Eu menti para você — dizia ele. — Você não me deu escolha. Se eu tivesse lhe revelado a
Palavra Perdida, você não teria acreditado em mim nem teria entendido.
A Palavra Perdida... não é o circumponto?
— A verdade — disse Peter — é que todos conhecem a Palavra Perdida... mas poucos sabem
reconhecê-la.
As palavras ecoaram na mente de Mal’akh.
— Você continua incompleto — disse Peter, pousando a palma da mão com delicadeza sobre a
cabeça de Mal’akh. — Seu trabalho ainda não terminou. Mas, para onde quer que vá, por favor, saiba
de uma coisa... você foi amado.
Por algum motivo, o toque carinhoso da mão de seu pai pareceu queimá-lo, dando início, como
um poderoso catalisador, a uma reação química dentro de seu corpo. Sem aviso, Mal’akh sentiu uma
vigorosa onda de energia, como se todas as suas células estivessem se dissolvendo.
Em um instante, toda a dor terrena evaporou.
Transformação. Está começando.
Eu estou olhando para mim mesmo, uma ruína de carne ensanguentada sobre a plataforma
sagrada de mármore. Meu pai está ajoelhado atrás de mim, segurando minha cabeça sem vida com a
única mão que lhe resta.
Sinto uma onda crescente de raiva... e de confusão.
A hora não é de compaixão... mas de vingança, de transformação... porém, mesmo assim, meu
pai se recusa a ceder, a cumprir seu papel, a canalizar sua dor e sua raiva para a lâmina da faca e
cravá-la no meu coração.
Estou amarrado aqui, suspenso... preso à minha casca terrena.
Meu pai passa suavemente a palma da mão pelo meu rosto para fechar meus olhos que se
apagam.
Sinto as amarras se soltarem.
Um véu esvoaçante se materializa à minha volta, tornando-se mais espesso e fazendo a luz
diminuir, escondendo o mundo de mim. De repente, o tempo se acelera e estou mergulhando em um
abismo muito mais escuro do que algum dia pude imaginar. Ali, dentro de um vazio estéril, ouço um
sussurro... sinto uma força se acumular. Ela vai ficando mais potente, crescendo a uma velocidade
espantosa, me rodeando. Assustadora e poderosa. Sombria e imponente.
Eu não estou sozinho aqui.
Este é meu triunfo, minha grande recepção. No entanto, por algum motivo, sinto-me cheio não
de alegria, mas de um medo sem limites.
É totalmente diferente do que eu esperava.
A força então se agita, rodopiando ao meu redor com uma potência irrefreável, ameaçando me
partir ao meio. De repente, sem aviso, as trevas se adensam como uma grande fera pré-histórica,
empinando-se à minha frente.
Estou diante de todas as almas obscuras que me precederam.
Estou gritando com um terror sem fim... enquanto a escuridão me devora por inteiro.