Page 69 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 69
Enquanto se dirigia aos fundos da garagem, olhou ao redor em busca de câmeras de segurança.
Não viu nenhuma. Aparentemente, quem morava ali não era do tipo que arrombava carros nem que
gostava de ser vigiado.
Mal’akh estacionou em um canto escuro perto dos elevadores, abaixou a divisória entre o
compartimento do motorista e o dos passageiros e passou pela abertura até a parte de trás da limusine.
Ali, livrou-se do quepe de chofer e colocou a peruca loura. Endireitando o paletó e a gravata, olhou-se
no espelho para se certificar de que não havia borrado a maquiagem. Mal’akh não estava disposto a
correr nenhum risco. Não naquela noite.
Esperei demais por isso.
Segundos depois, estava entrando no elevador particular. A subida até o último andar foi
silenciosa e suave. Quando a porta se abriu, ele se viu em um hall de entrada elegante e privativo. Seu
anfitrião já estava à sua espera.
— Dr. Abaddon, seja bem-vindo.
Mal’akh encarou os famosos olhos cinzentos do homem e sentiu o coração bater mais
acelerado.
— Sr. Solomon, obrigado por me receber.
— Por favor, pode me chamar de Peter. — Os dois homens se cumprimentaram com um aperto
de mãos. Quando suas palmas se tocaram, Mal’akh viu o anel de ouro maçônico na mão do homem
mais velho... a mesma que certa vez havia apontado uma arma para ele. Uma voz sussurrou de seu
passado distante. Se você apertar esse gatilho, vou assombrá-lo para sempre.
— Entre, por favor — disse Solomon, conduzindo Mal’akh até uma elegante sala de estar cujas
amplas janelas proporcionavam uma vista estupenda do horizonte coberto de edifícios de Washington.
— É de chá este cheiro que estou sentindo? — perguntou Mal’akh ao entrar.
Solomon pareceu impressionado.
— Meus pais sempre recebiam convidados com chá. Eu mantive essa tradição.
— Ele conduziu Mal’akh até a parte da sala em que um serviço de chá aguardava em frente à
lareira. — Creme e açúcar?
— Puro, obrigado.
Solomon pareceu novamente impressionado.
— Um purista. — Ele serviu a ambos uma xícara de chá-preto. — Você disse que precisava
conversar comigo sobre um assunto de natureza delicada e que só podia ser discutido em particular.
— Obrigado. Fico grato pelo seu tempo.
— Você e eu agora somos irmãos maçônicos. Temos um vínculo. Diga-me como posso ajudá-lo.
— Em primeiro lugar, eu gostaria de lhe agradecer pela honra do grau 33 alguns meses atrás.
Isso significa muito para mim.
— Fico satisfeito, mas, por favor, saiba que essas decisões não são só minhas. Elas são
tomadas por votação no Supremo Conselho.
— Claro. — Mal’akh desconfiava que Peter Solomon provavelmente votara contra ele, mas,
entre os maçons, como em qualquer coisa na vida, dinheiro era poder. Depois de alcançar o grau 32 em
sua própria loja, Mal’akh esperara apenas um mês para fazer uma doação de muitos milhões de dólares
para caridade em nome da Grande Loja Maçônica. Esse ato espontâneo de altruísmo, conforme
Mal’akh previra, havia bastado para lhe valer um rápido convite para integrar a elite do grau 33. Ainda
assim, até agora nenhum segredo me foi revelado.
Apesar dos boatos de longa data — “Tudo é revelado no grau 33” —, ninguém f lhe contara nada
que fosse relevante para sua busca. Mas nunca havia esperado que fosse diferente. O círculo interno
da Francomaçonaria continha círculos ainda menores... aos quais Mal’akh ainda iria levar muitos anos
para ter acesso, se é que um dia teria. Mas não dava importância a isso. Sua iniciação cumprira seu
objetivo. Algo único e singular acontecera dentro daquela Sala do Templo, algo que dera a Mal’akh
poder sobre todos eles. Eu não obedeço mais às suas regras.
— Sabia — disse Mal’akh, tomando um gole do chá — que nós dois nos conhecemos muitos
anos atrás?
Solomon fez cara de surpresa.
— É mesmo? Não me recordo.
— Faz bastante tempo... — E Christopher Abaddon não é meu nome verdadeiro.
— Sinto muito. Devo estar ficando velho. Pode me lembrar de onde eu o conheço?
Mal’akh sorriu uma última vez para o homem que mais detestava na face da Terra.
— É uma pena você não se lembrar.
Com um único movimento gracioso, Mal’akh tirou do bolso um pequeno instrumento e o
estendeu para a frente, pressionando-o com força contra o peito do outro. Houve um clarão azul e pôde-