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verdadeiro  poder  desse  conhecimento  aprenderam  a  temer  seu  assombroso  potencial.  Eles  sabiam
          que, se ele caísse nas mãos de não iniciados, os resultados poderiam ser desastrosos. Como já disse,
          ferramentas poderosas podem ser usadas para o bem ou para o mal. Assim, de modo a proteger os
          Antigos  Mistérios,  e  consequentemente  a  humanidade,  os  primeiros  adeptos  formaram  fraternidades
          secretas.  Dentro  dessas  irmandades,  eles  só  compartilhavam  seu  saber  com  aqueles  devidamente
          iniciados, transmitindo o conhecimento de sábio para sábio. Muitos acreditam que podemos olhar para
          trás  e  enxergar  os  vestígios  históricos  daqueles  que  dominavam  os  Mistérios...  nas  histórias  de
          feiticeiros, mágicos e curandeiros.
                 — E a Pirâmide Maçônica? — perguntou Sato. — Onde ela se encaixa?
                 — Bem — disse Langdon apertando o passo para acompanhar o ritmo dos outros —, é nesse
          ponto que história e mito começam a se fundir. Segundo alguns relatos, na Europa do século XVI quase
          todas essas fraternidades secretas já haviam desaparecido, a maioria exterminada pela maré crescente
          de perseguição religiosa. Dizem que os francomaçons se tornaram os últimos guardiães sobreviventes
          dos  Antigos  Mistérios.  CompreenSiVelme11te  eles  temiam  que,  se  a  sua  irmandade  um  dia  se
          extinguisse como as que a precederam os Antigos Mistérios se perderiam para sempre.
                 — E a pirâmide? — tornou a pressionar Sato.
                 Langdon estava chegando lá.
                 — A lenda da pirâmide Maçônica é bem simples. Segundo ela, no intuito de cumprir sua tarefa
          de proteger esse grande saber para as gerações futuras, os maçons decidiram escondê-lo dentro de
          uma fortaleza. — Langdon tentou organizar suas lembranças sobre aquela história. — Mais uma vez,
          ressalto  que  isso  tudo  é  um  mito,  mas  os  maçons  supostamente  transportaram  seu  conhecimento
          secreto do Velho Mundo para o Novo Mundo, aqui para os Estados Unidos, uma terra que esperavam
          continuar livre da tirania religiosa. E aqui construíram uma fortaleza impenetrável, uma pirâmide oculta,
          criada para proteger os Antigos Mistérios até o momento em que toda a humanidade estivesse pronta
          para lidar com o assombroso poder que esse conhecimento era capaz de conferir. Segundo o mito, os
          maçons coroaram sua grande pirâmide com uma brilhante pedra de ouro maciço, símbolo do precioso
          tesouro guardado lá dentro: o saber antigo capaz de dar à humanidade o poder de realizar todo o seu
          potencial. De alcançar a apoteose.
                 — Uma história e tanto — comentou Sato.
                 — É. Os maçons são vítimas de todo tipo de lenda maluca.
                 — Evidentemente o senhor não acredita na existência dessa pirâmide.
                 — É claro que não — respondeu Langdon. — Não existe nenhuma prova sugerindo que nossos
          pais  fundadores  maçons  tenham  construído  qualquer  tipo  de  pirâmide  nos  Estados  Unidos,  muito
          menos na capital. É bem difícil esconder uma pirâmide, sobretudo uma com tamanho suficiente para
          conter o saber perdido de todas as épocas.
                 A  lenda,  pelo  que  Langdon  se  lembrava,  nunca  explicava  exatamente  o  que  a  Pirâmide
          Maçônica  continha  —  textos  antigos,  escritos  ocultos,  revelações  científicas  ou  algo  muito  mais
          misterioso  —,  mas  o  que  ela  dizia  era  que  a  preciosa  informação  guardada  lá  dentro  estava
          engenhosamente codificada... e só podia ser compreendida pelos espíritos mais esclarecidos.
                 —  De  toda  forma  —  disse  Langdon  —,  essa  história  entra  numa  categoria  que  nós,
          simbologistas, chamamos de “híbrido arquetípico”: uma mistura de outras lendas clássicas que toma
          emprestados tantos elementos da mitologia popular que não pode ser outra coisa além de um construto
          fictício... e não um fato histórico.
                 Quando  Landgon  ensinava  a  seus  alunos  sobre  os  híbridos  arquetípicos,  gostava  de  usar  o
          exemplo dos contos de fadas, que eram recontados geração após geração e exagerados com o passar
          do tempo, tomando tanta coisa emprestada uns dos Outros que se transformavam em contos morais
          homogeneizados,  contendo  os  mesmos  elementos  icônicos:  donzelas  virginais,  belos  príncipes,
          fortalezas impenetráveis e magos poderosos. Graças aos contos de fadas, essa batalha primitiva do
          “bem contra o mal” é implantada em nossa mente quando ainda somos crianças: Merlin contra a fada
          Morgana, São Jorge contra o dragão, Davi contra Golias, Branca de Neve contra a bruxa e até mesmo
          Luke Skywalker contra Darth Vader.
                 Sato coçou a cabeça enquanto eles faziam uma curva e desciam um curto lance de escada atrás
          de Anderson.
                 — Me diga uma coisa. Se não me engano, as pirâmides antigamente eram consideradas portais
          místicos por meio dos quais os faraós mortos podiam ascender até os deuses, não é?
                 — É.
                 Sato parou onde estava e segurou o braço de Langdon fuzilando-o com uma expressão entre a
          surpresa e a incredulidade.
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