Page 75 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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macio quando sentiu a lateral do pé direito tocar o cimento duro. Espantada, corrigiu instintivamente o
curso para a esquerda, tornando a pisar no carpete com os dois pés.
A voz de Katherine se materializou mais adiante, e suas palavras quase foram engolidas pela
acústica sem vida daquele abismo.
— O corpo humano é espantoso — disse ela. — Se você o priva de uma informação sensorial,
os outros sentidos assumem o comando quase no mesmo instante. Neste momento, os nervos dos
seus pés estão literalmente “se ajustando” para ficarem mais sensíveis.
Que bom, pensou Trish, tornando a corrigir seu curso.
As duas caminharam em silêncio durante um tempo que pareceu longo demais.
— Quanto falta? — perguntou Trish por fim.
— Estamos mais ou menos na metade. — A voz de Katherine agora soava mais distante.
Trish apertou o passo, fazendo o possível para se controlar, mas a extensão daquele negrume
parecia prestes a engolfá-la. Não consigo ver um milímetro à frente do nariz!
— Katherine? Como você sabe quando é para parar de andar?
— Você vai saber daqui a pouquinho — respondeu Katherine.
Isso fazia um ano, e agora Trish estava novamente no meio do vazio, andando na direção
oposta, a caminho da recepção, para acolher o convidado da chefe. Uma súbita mudança na textura do
piso sob seus pés a alertou de que ela estava a poucos metros da saída. A faixa de transição, como
dizia Peter Solomon, referindo-se à área intermediária que delimita um campo de beisebol; ele era fã do
esporte. Trish parou abruptamente, sacou o cartão de acesso e tateou no escuro até encontrar o lugar
para inseri-lo.
A porta se abriu com um silvo.
Trish apertou os olhos para protegê-los da acolhedora luz do corredor do CAMS.
Consegui... de novo.
Enquanto percorria os corredores desertos, Trish se pegou pensando no estranho arquivo
editado que elas haviam encontrado em um servidor seguro.
Antigo portal? Localização subterrânea secreta? Imaginou como Mark Zoubianis estaria se
saindo na tentativa de descobrir onde estava armazenado o misterioso arquivo.
Dentro da sala de controle, Katherine estava parada diante do brilho suave do telão de plasma,
com os olhos erguidos para o enigmático arquivo que haviam descoberto. Tinha isolado suas
expressões-chave e estava cada vez mais certa de que aquele texto se referia à lenda improvável que o
irmão aparentemente contara ao Dr. Abaddon.
... uma localização SUBTERRÂNEA secreta onde...
... lugar em WASHINGTON, D.C., as coordenadas...
... revelou um ANTIGO PORTAL que conduzia...
... que a PIRÂMIDE reserva perigosas...
... decifrar esse SYMBOLON GRAVADO para revelar...
Preciso ver o resto desse arquivo, pensou Katherine.
Passou mais alguns segundos encarando as palavras, então desligou o interruptor do telão de
plasma. Katherine sempre desligava aquele monitor, que consumia muita energia, de modo a não
desperdiçar as reservas de hidrogênio líquido do gerador.
Ela observou as palavras se apagando devagar, minguando até se transformarem em um
minúsculo pontinho branco, que tremeluziu no meio da parede antes de finalmente se extinguir.
Em seguida, virou e caminhou em direção à sua sala, O Dr. Abaddon iria chegar a qualquer
momento, e ela queria que ele se sentisse bem-vindo.
CAPÍTULO 32
— Estamos quase lá — disse Anderson, guiando Langdon e Sato pelo corredor aparentemente
sem fim que cortava toda a extensão da ala leste do Capitólio. — Na época de Lincoln, este corredor
tinha piso de terra batida e era cheio de ratos.
Langdon se sentiu grato pelo piso ter sido ladrilhado; não era um grande fã de ratos. O grupo
seguiu em frente com o tamborilar de seus passos criando um eco sinistro e irregular no corredor
comprido. Portas margeavam a longa passagem, algumas fechadas, porém muitas entreabertas. Várias
das salas naquele andar pareciam abandonadas. Langdon percebeu que os números agora decresciam
e, depois de algum tempo, pareciam estar se esgotando.