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ainda a privacidade de Peter Solomon. E por que, afinal de contas, esse maluco se interessaria por esta
          pequena pirâmide?
                 — Professor, nós temos um problema — declarou a voz de Sato bem alto atrás dele. — Acabei
          de receber uma informação nova e já estou farta das suas mentiras.
                 Langdon se virou e viu  a diretora do Escritório de Segurança marchando sala adentro com o
          BlackBerry na mão e os olhos faiscando. Espantado, olhou para Anderson em busca de ajuda, mas o
          chefe estava montando guarda junto à porta com uma expressão de poucos amigos. Sato parou diante
          do professor e enfiou o BlackBerry no seu rosto.
                 Atarantado, Langdon olhou para a tela, que exibia uma imagem em preto e branco parecida com
          um fantasmagórico negativo de filme. A imagem mostrava um emaranhado de objetos, sendo que um
          deles  brilhava  intensamente.  Embora  estivesse  torto  e  descentralizado,  o  item  mais  reluzente  era
          claramente uma pequena pirâmide pontuda.
                 Uma pirâmide em miniatura? Langdon olhou para Sato.
                 — O que é isso?
                 A pergunta só pareceu aumentar ainda mais a ira da diretora.
                 — Está fingindo que não sabe?
                 Langdon perdeu a paciência.
                 — Não estou fingindo nada! Eu nunca vi isso antes na minha vida!
                 — Mentira! — disparou Sato, cuja voz soou incisiva no ar úmido. — O senhor passou a noite
          inteira carregando isso dentro da bolsa!
                 — Eu... — Langdon interrompeu a frase no meio. Seus olhos abaixaram lenta- mente até a bolsa
          em  seu  ombro.  Ele  então  tornou  a  erguê-los  para  o  BlackBerry.  Meu  Deus...  o  embrulho.  Langdon
          examinou a imagem com mais atenção.
          Foi aí que viu. Um cubo apagado envolvia a pirâmide. Pasmo, percebeu que estava diante de um raio X
          da sua bolsa... e também do misterioso pacote em forma de cubo de Peter. O cubo, na verdade, era
          uma caixa contendo uma pequena pirâmide.
                 Langdon abriu a boca para falar, mas não conseguiu dizer nada. Sentiu o ar lhe escapar dos
          pulmões enquanto uma nova revelação se abatia sobre ele.
                 Simples. Pura. Devastadora.
                 Meu Deus. Ele tornou a olhar para a pirâmide de pedra incompleta sobre a mesa. Seu topo era
          achatado — uma pequena superfície quadrada —, um espaço vazio que aguardava simbolicamente o
          arremate... a peça que a faria deixar de ser uma Pirâmide Inacabada, transformando-a numa Pirâmide
          Verdadeira.
                 Langdon então percebeu que a pirâmide minúscula que carregava não era uma pirâmide. É um
          cume. Nesse instante, soube por que ele era o único capaz de desvendar os mistérios daquela pirâmide
          de pedra.
                 A última peça está em meu poder.
                 E ela é de fato... um talismã.
                 Quando Peter lhe contara que o embrulho continha um talismã, Langdon achou graça. Agora via
          que o amigo tinha razão. Aquele pequenino cume era mesmo um talismã, mas não do tipo mágico... de
          um tipo bem mais antigo. Muito antes de adquirir conotações de magia, a palavra talismã tinha outro
          significado: “completar”. Do grego télesma, que significa “completude”, um talismã é qualquer coisa ou
          ideia que completa outra e a torna inteira. O elemento final. Simbolicamente falando, um cume seria o
          derradeiro talismã, aquele que transformaria a Pirâmide Inacabada em um símbolo de perfeição total.
                 Langdon sentiu que uma sinistra combinação de fatores o forçava a aceitar uma verdade muito
          estranha: a não ser pelo tamanho, a pirâmide de pedra na Câmara de Reflexões de Peter parecia se
          transformar aos poucos em algo que recordava vagamente a Pirâmide Maçônica da lenda.
                 Pelo brilho que o cume exibia no raio X, Langdon desconfiou que fosse de metal... um metal
          muito denso. Não tinha como saber se era ou não de ouro maciço e não estava disposto a permitir que
          sua própria mente começasse a lhe pregar peças. Essa pirâmide é pequena demais. O código é fácil
          demais de decifrar. E... ela é um mito, pelo amor de Deus!
                 Sato o observava com atenção.
                 — Para um homem inteligente, professor, o senhor fez algumas escolhas bem estúpidas hoje à
          noite.  Mentir  para  uma  diretora  de  inteligência,  por  exemplo,  e  obstruir  intencionalmente  uma
          investigação da CIA.
                 — Eu posso explicar, se a senhora deixar.
                 — O senhor vai explicar na sede da CIA. A partir de agora, considere-se preso.
                 O corpo de Langdon se retesou.
                 — A senhora não pode estar falando sério.
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