Page 86 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 86
Ela andou na direção da mesa de artefatos. Anderson tentou iluminar seu caminho, mas o facho de luz
estava começando a fraquejar. Ele bateu no fundo da lanterna, conseguindo fazer com que brilhasse
com mais intensidade.
Enquanto os três avançavam pelo espaço estreito, o aroma pungente do enxofre encheu as
narinas de Langdon. O segundo subsolo era úmido, e a umidade do ar ativava o enxofre no pratinho.
Sato chegou diante da mesa e olhou para a caveira e para os outros objetos. Anderson se juntou a ela,
fazendo o possível para iluminar os artefatos com o facho cada vez mais fraco da lanterna.
Depois de examinar tudo o que havia ali, ela levou as mãos aos quadris e deu um suspiro.
— Que tralha toda é essa?
Langdon sabia que os objetos naquela sala haviam sido cuidadosamente escolhidos e
arrumados.
— São símbolos de transformação — explicou ele, sentindo-se confinado ao se juntar aos outros
diante da mesa, nos fundos do cubículo. — A caveira, ou caput mortuum, representa a última
transformação do homem, pela decomposição. É um lembrete de que todos nós um dia perdemos
nossa carne mortal. O enxofre e o sal são catalisadores alquímicos que facilitam a transformação. A
ampulheta representa o poder transformador do tempo. — Ele gesticulou na direção da vela apagada.
— E esta vela representa o fogo primordial criador e o despertar do homem do sono da ignorância... a
transformação pela iluminação.
— E... isto aqui? — perguntou Sato, apontando para o canto.
Anderson girou o facho cada vez mais débil da lanterna para a gigantesca foice apoiada na
parede do fundo.
— Não é um símbolo de morte, como muitos pensam — disse Langdon. — A foice, na verdade,
simboliza o alimento transformador da natureza: a colheita de suas dádivas.
Sato e Anderson se calaram, aparentemente tentando processar a cena bizarra à sua frente.
Tudo o que Langdon queria era sair daquele lugar.
— Sei que esta sala pode parecer estranha — disse o professor —, mas não há nada de mais
aqui. Na verdade, isto tudo é bem normal. Várias lojas maçônicas têm câmaras iguaizinhas a esta.
— Mas isto aqui não é uma loja maçônica! — declarou Anderson. — É o Capitólio dos Estados
Unidos, e eu gostaria de saber o que esta sala está fazendo no meu prédio.
— Às vezes, os maçons montam essas câmaras em seus escritórios ou em casa, como espaços
de meditação. Não é raro.
Langdon conhecia um cirurgião cardíaco em Boston que havia montado uma Câmara de
Reflexões maçônica num espaço reservado de seu consultório, para poder refletir sobre a mortalidade
antes de operar.
Sato parecia intrigada.
— Está dizendo que Peter Solomon vem aqui refletir sobre a morte?
— Não sei mesmo — respondeu Langdon com sinceridade. — Talvez ele tenha criado esta sala
como um santuário para os irmãos maçons que trabalham no prédio, para que eles tivessem um retiro
espiritual do caos do mundo material... um lugar onde um poderoso legislador pudesse refletir antes de
tomar decisões que irão afetar seus conterrâneos.
— Um sentimento nobre — comentou Sato com sarcasmo —, mas algo me diz que o povo
americano talvez não goste que seus líderes fiquem rezando dentro de salinhas com foices e caveiras.
Bem, eles não deveriam achar isso, pensou Langdon, imaginando como o mundo poderia ser
diferente caso mais líderes parassem para refletir sobre a inevitabilidade da morte antes de partirem
para a guerra.
Sato franziu os lábios e examinou cuidadosamente os quatro cantos da câmara iluminada pela
luz fraca da lanterna.
— Deve haver alguma coisa aqui além de ossos humanos e pratinhos de substâncias químicas,
professor. Alguém trouxe o senhor lá da sua casa em Cambridge para colocá-lo exatamente nesta sala.
Langdon apertou a bolsa contra a lateral do corpo, ainda sem conseguir imaginar como o
embrulho podia estar relacionado àquela câmara.
— Sinto muito, mas não estou vendo nada fora do normal. — Langdon estava torcendo para
que, depois dessa, eles finalmente começassem a procurar Peter.
A lanterna de Anderson tornou a falhar e Sato se virou para ele de supetão, sua raiva
transparecendo.
— Pelo amor de Deus, assim está difícil! — Ela mergulhou a mão no bolso e sacou um isqueiro.
Acionando-o com o polegar, estendeu a chama para a frente e acendeu a única vela da mesa. O pavio
crepitou e em seguida pegou fogo, espalhando uma luminescência fantasmagórica pelo espaço