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Ela andou na direção da mesa de artefatos. Anderson tentou iluminar seu caminho, mas o facho de luz
          estava começando a fraquejar. Ele bateu no fundo da lanterna, conseguindo fazer com que brilhasse
          com mais intensidade.
                 Enquanto  os  três  avançavam  pelo  espaço  estreito,  o  aroma  pungente  do  enxofre  encheu  as
          narinas de Langdon. O segundo subsolo era úmido, e a umidade do ar ativava o enxofre no pratinho.
          Sato chegou diante da mesa e olhou para a caveira e para os outros objetos. Anderson se juntou a ela,
          fazendo o possível para iluminar os artefatos com o facho cada vez mais fraco da lanterna.
                 Depois de examinar tudo o que havia ali, ela levou as mãos aos quadris e deu um suspiro.
                 — Que tralha toda é essa?
                 Langdon  sabia  que  os  objetos  naquela  sala  haviam  sido  cuidadosamente  escolhidos  e
          arrumados.
                 — São símbolos de transformação — explicou ele, sentindo-se confinado ao se juntar aos outros
          diante  da  mesa,  nos  fundos  do  cubículo.  —  A  caveira,  ou  caput  mortuum,  representa  a  última
          transformação  do  homem,  pela  decomposição.  É  um  lembrete  de  que  todos  nós  um  dia  perdemos
          nossa carne mortal. O enxofre e o sal são catalisadores alquímicos que facilitam a transformação. A
          ampulheta representa o poder transformador do tempo. — Ele gesticulou na direção da vela apagada.
          — E esta vela representa o fogo primordial criador e o despertar do homem do sono da ignorância... a
          transformação pela iluminação.
                 — E... isto aqui? — perguntou Sato, apontando para o canto.
                 Anderson  girou  o  facho  cada  vez  mais  débil  da  lanterna  para  a  gigantesca  foice  apoiada  na
          parede do fundo.
                 — Não é um símbolo de morte, como muitos pensam — disse Langdon. — A foice, na verdade,
          simboliza o alimento transformador da natureza: a colheita de suas dádivas.
                 Sato e Anderson se calaram, aparentemente tentando processar a cena bizarra à sua frente.
                 Tudo o que Langdon queria era sair daquele lugar.
                 — Sei que esta sala pode parecer estranha — disse o professor —, mas não há nada de mais
          aqui. Na verdade, isto tudo é bem normal. Várias lojas maçônicas têm câmaras iguaizinhas a esta.
                 — Mas isto aqui não é uma loja maçônica! — declarou Anderson. — É o Capitólio dos Estados
          Unidos, e eu gostaria de saber o que esta sala está fazendo no meu prédio.
                 — Às vezes, os maçons montam essas câmaras em seus escritórios ou em casa, como espaços
          de meditação. Não é raro.
                 Langdon  conhecia  um  cirurgião  cardíaco  em  Boston  que  havia  montado  uma  Câmara  de
          Reflexões maçônica num espaço reservado de seu consultório, para poder refletir sobre a mortalidade
          antes de operar.
                 Sato parecia intrigada.
                 — Está dizendo que Peter Solomon vem aqui refletir sobre a morte?
                 — Não sei mesmo — respondeu Langdon com sinceridade. — Talvez ele tenha criado esta sala
          como um santuário para os irmãos maçons que trabalham no prédio, para que eles tivessem um retiro
          espiritual do caos do mundo material... um lugar onde um poderoso legislador pudesse refletir antes de
          tomar decisões que irão afetar seus conterrâneos.
                 —  Um  sentimento  nobre  —  comentou  Sato  com  sarcasmo  —,  mas  algo  me  diz  que  o  povo
          americano talvez não goste que seus líderes fiquem rezando dentro de salinhas com foices e caveiras.
                 Bem, eles não deveriam achar isso, pensou Langdon, imaginando como o mundo poderia ser
          diferente caso mais líderes parassem para refletir sobre a inevitabilidade da morte antes de partirem
          para a guerra.
                 Sato franziu os lábios e examinou cuidadosamente os quatro cantos da câmara iluminada pela
          luz fraca da lanterna.
                 — Deve haver alguma coisa aqui além de ossos humanos e pratinhos de substâncias químicas,
          professor. Alguém trouxe o senhor lá da sua casa em Cambridge para colocá-lo exatamente nesta sala.
                 Langdon  apertou  a  bolsa  contra  a  lateral  do  corpo,  ainda  sem  conseguir  imaginar  como  o
          embrulho podia estar relacionado àquela câmara.
                 — Sinto muito, mas não estou vendo nada fora do normal. — Langdon estava torcendo para
          que, depois dessa, eles finalmente começassem a procurar Peter.
                 A  lanterna  de  Anderson  tornou  a  falhar  e  Sato  se  virou  para  ele  de  supetão,  sua  raiva
          transparecendo.
                 — Pelo amor de Deus, assim está difícil! — Ela mergulhou a mão no bolso e sacou um isqueiro.
          Acionando-o com o polegar, estendeu a chama para a frente e acendeu a única vela da mesa. O pavio
          crepitou  e  em  seguida  pegou  fogo,  espalhando  uma  luminescência  fantasmagórica  pelo  espaço
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