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Ela continuou submersa, lutando para não abrir os olhos nem a boca. Seus pulmões queimavam
          enquanto ela resistia à poderosa ânsia de respirar. Não! Não faça isso! Mas o reflexo de inalação de
          Trish finalmente a dominou.
                 Sua boca se abriu por inteiro e seus pulmões se expandiram violentamente, tentando sugar o
          oxigênio  de  que  seu  corpo  precisava.  Em  um jato  ardente,  uma  onda de  etanol  penetrou  sua boca.
          Quando o produto químico desceu por sua garganta até chegar aos pulmões, Trish sentiu uma dor que
          jamais  imaginara  ser  possível.  Misericordiosamente,  a  dor  só  durou  alguns  segundos  antes  de  seu
          mundo cair na escuridão.
                 Mal’akh permaneceu em pé ao lado do tanque, recuperando o fôlego e avaliando os estragos.
                 A moça sem vida pendia da borda, com o rosto ainda mergulhado no etanol. Ao vê-la ali, Mal’akh
          teve um lampejo da única outra mulher que havia matado.
                 Isabel Solomon.
                 Muito tempo atrás. Em outra vida.
                 Mal’akh então olhou para o cadáver flácido à sua frente. Segurou os quadris largos da moça e
          deu um impulso para cima com as pernas, erguendo-a e empurrando-a até ela deslizar pela borda do
          tanque. A cabeça de Trish Dunne escorregou para dentro do etanol. O resto de seu corpo foi atrás,
          submergindo.  Aos  poucos,  as  ondulações  da  superfície  cessaram,  deixando  a  mulher  a  flutuar,
          lânguida, por cima da imensa criatura marinha. À medida que suas roupas ficavam mais pesadas, ela
          começou a afundar, boiando rumo à escuridão. Pouco a pouco, o corpo de Trish Dunne se assentou
          sobre o grande animal.
                 Mal’akh limpou as mãos e tornou a pôr a tampa de plexiglas, lacrando o tanque.
                 O Galpão Molhado tem um novo espécime.
                 Ele recolheu o cartão de acesso de Trish do chão e o guardou no bolso: 0804.
                 Quando Mal’akh viu Trish pela primeira vez na recepção, enxergou nela um risco. Depois se deu
          conta de que o cartão de acesso e a senha da moça eram a sua garantia. Se a sala de armazenamento
          de dados de Katherine fosse tão segura quanto Peter dera a entender, então Mal’akh previa alguma
          dificuldade para convencê-la a destrancá-la para ele. Agora tenho as minhas próprias chaves.
          Agradava-lhe saber que não precisaria mais perder tempo tentando obrigar Katherine a fazer o que ele
          queria.
                 Ao endireitar o corpo, Mal’akh viu o próprio reflexo na janela e percebeu que sua maquiagem
          estava  bastante  estragada.  Aquilo  não  tinha  mais  importância.  Quando  Katherine  juntasse  todas  as
          peças do quebra-cabeça, seria tarde demais.


          CAPÍTULO 38

                 —  Esta  sala  é maçônica?  —  quis  saber  Sato, virando  as  costas  para a  caveira  e  encarando
          Langdon no escuro.
                 O professor fez que sim.
                 — Chama-se Câmara de Reflexões. Essas salas são lugares frios e austeros onde um maçom
          pode refletir sobre a própria mortalidade. Ao meditar sobre o caráter inevitável da morte, um maçom
          adquire uma valiosa compreensão sobre a natureza efêmera da vida.
                 Sato correu os olhos por aquele espaço sinistro, aparentemente nem um pouco convencida.
                 — Isto aqui é um tipo de sala de meditação?
                 — Basicamente, sim. Essas câmaras sempre contêm os mesmos símbolos: uma caveira e ossos
          cruzados, uma foice, uma ampulheta, enxofre, sal, um papel em branco, uma vela, etc. Os símbolos da
          morte inspiram os maçons a refletir sobre a melhor forma de conduzir suas vidas na Terra.
                 — Parece um altar da morte — disse Anderson.
                 É mais ou menos essa a ideia.
                 — A maioria dos meus alunos de simbologia tem a mesma reação no início. — Langdon muitas
          vezes lhes indicava o livro de Beresniak, Símbolos da Francomaçonaria, que tinha belas ilustrações de
          Câmaras de Reflexões.
                 — E os seus alunos não acham perturbador o fato de os maçons meditarem em meio a caveiras
          e foices? — perguntou Sato.
                 — Não mais perturbador do que cristãos rezando aos pés de um homem pregado na cruz, ou do
          que  hindus  entoando  cânticos  diante  de  um  elefante  de  quatro  braços  chamado  Ganesha.  A  má
          compreensão dos símbolos de uma cultura é uma fonte comum de preconceito.
                 Sato se virou para o outro lado, pelo jeito sem paciência para sermões.
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