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Manuel Abranches de Soveral                                   FRAGMENTA HISTORICA


           assim 33 anos de idade. Como ele próprio diz   na  titularidade  dos  cargos.  A  24.5.1522  teve
           em 1557 que servia o rei há 41 anos, portanto   provisão  para  receber  no  almoxarifado  de
           desde 1516, significa que ocupou algum outro   Viseu  50.000  reais  do  seu  mantimento  de
           cargo antes ,  como  aliás  é  natural,  pois  não   corregedor  da  comarca  da  Beira.  E a 1 de
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           seria  provável  que  tivesse  começado  a  sua   Setembro  do  mesmo  ano,  já  desembargador,
           carreira  de magistrado  logo pelo  alto  cargo   passou procuração a seu primo Manuel de
           de  juiz  de  fora  de  Coimbra.  Nos  cerca  de  6   Carvalho, cavaleiro da Casa Real, para receber
           anos que medeiam entre a data provável da   os ditos 50.000 reais. 13
           sua  licenciatura  e  1516,  certamente  exerceu   Ainda  no  reinado  de  D.  Manuel  I  foi  feito
           o cargo de tabelião do público e judicial de   cavaleiro  professo  da  Ordem  de  Cristo
           Pinhel,  sendo  certo  que  tinha  a  propriedade   (11.3.1521) ,  com  20.000  reais  de  tença,
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           deste  ofício.  Com  efeito,  a  17.6.1521  D.   e comendador de Nossa Senhora da Fresta
           Manuel I enviou uma comunicação aos juízes,   (Trancoso) nesta ordem. D. João III deu-lhe em
           concelho e homens bons de Pinhel, pela qual   1543  a  comenda  de  São  Pedro  de  Gouveias
           a Jorge Mendes, aí morador, foi feita mercê do   (Pinhel), também nesta ordem.  Participou na
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           ofício  de  tabelião  do  público  e  judicial  dessa   reunião geral da Ordem de Cristo em Lisboa no
           vila,  como  tinha  sido  o  Licenciado  Cristóvão   início do reinado de D. Sebastião. 16
           Mendes, corregedor da comarca da Beira, que
           trespassou nele por um público instrumento   D. João III subiu ao trono a 13.12.1521, e logo
           de trespasse e apresentação feito a 21.5.1521   no ano seguinte nomeou o Licenciado Cristóvão
           e assinado pelo tabelião na dita correição Brás   Mendes de Carvalho desembargador da Casa
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           de Azevedo. 10                             da  Suplicação  (12.8.1522)  e mais tarde
                                                      ouvidor do crime da mesma Casa da Suplicação
           Depois  de  ser  juiz  de  fora  de  Coimbra,  foi   (1.10.1529) , cargos em que percorreu o país
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           escrivão  dos  contos  da  cidade  de  Lisboa,   durante vários anos ao seu serviço, mas sem
           embora  não  tenha  encontrado  a  respectiva   perder a titularidade dos anteriores cargos de
           nomeação.  Mas  já  o  era  em  1519,  pois  a
           15.10.1521  o  tesoureiro  da  Casa  da  Índia,   12  ANTT, Corpo Cronológico, p. II, mç. 101, nº 62.
           Gaspar  Pereira,  declarou  que  recebeu  de   13  ANTT, Corpo Cronológico, p. II, mç. 103, nº 99.
                                                        António Machado de Faria, “Cavaleiros da Ordem de
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           João  Rodrigues,  recebedor  da  sisa  da  fruta,   Cristo no Século XVI”, in "Arqueologia e História", Série
           6.000  reais  que  pagou  a  Cristóvão  Mendes,   8, VoI. VI, 1955, p. 33.
           escrivão  dos  contos  da  cidade  de  Lisboa,  de   15   Em  1610  fez-se  tombo  desta  comenda,  sendo
           seu mantimento do ano de 1519.  Como ficou   comendador D. António de Magalhães e Menezes
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           dito atrás, a 17.6.1521 já era corregedor-mor   (ANTT, Tombos das Comendas, nº 252). Não fica claro,
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           da  comarca  da  Beira  e  Riba-Côa  e  provedor-  Cristóvão Mendes manteve esta comenda, que D. João
           mor  dos  portos,  por  nomeação  que  não   III lhe deu pedindo em troca a tença que D. Manuel I lhe
           encontrei,  tendo  sido  confirmado  a  8.4.1537   dera com o hábito. Ora, como diz Cristóvão Mendes, a
                                                      comenda valia menos do que a tença…
                                                      16   No  início  do  reinado  de  D.  Sebastião  a  Ordem  de
           até  essa  quantia,  pagando  cada  um  segundo  a  sua   Cristo reuniu em Lisboa. Diz Frei Jerónimo Román, no
           faculdade e duas viúvas por um morador. A 16.8.1519,   seu “Libro primero de la historia de la Ynclita Cavalleria
           o escrivão da Câmara da cidade de Coimbra atestou que   de  Christo  en  la  corona  de  los  reynos  de  Portugal”,
           o licenciado Cristóvão Mendes, juiz de fora da mesma   que no “año de mil e quinientos y sincoenta y ocho se
           cidade, serviu o dito cargo de 20.3.1518 até Janeiro do   congregaron en la ciudad de Lisboa en el ospital real
           ano seguinte (ANTT, Corpo Cronológico, p. II, mç. 84, nº   que dicen de Todos Santos los cavalleros del havito que
           37).                                       se allaron en la ciudad y en su comarca cujos nombres
           9  Mas não é nem pode ser o Cristóvão Mendes que a   porne mas abaxo”. E entre eles está “Cristoval Mendes
           30.3.1486  foi  nomeado  juiz  de  fora  de  Montemor-o-  de Carvallo”  –  Vide  “Introdução  às  Crónicas  sobre  as
           Novo (ANTT, Chancelaria de D. João II, Liv. 1, fól. 113),   Ordens  Militares  Portuguesas  de  Jerónimo  Román”,
           a 19.10.1487 juiz de fora de Évora (ib, Liv. 21, fól. 40) e   de Luís Adão da Fonseca e Maria Cristina Pimenta, in
           a 3.12.1488 corregedor da comarca de Entre-Douro-e-  Militarium Ordinum Analecta, 10, 2008.
           Minho (ib, Liv. 14, fól. 76).              17  ANTT, Chancelaria de D. João III, M., Liv. 37, fól. 1; e
           10  ANTT, Chancelaria de D. Manuel I, M., Liv. 39, fól. 69.  Liv. 30, fól. 135v.
           11  ANTT, Corpo Cronológico, p. II, mç. 98, nº 89.  18  ANTT, Chancelaria de D. João III, M., Liv. 19, fól. 7.

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