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FRAGMENTA HISTORICA Cristóvão Mendes de Carvalho ‐ História de um alto
magistrado quinhentista e de sua família
abrindo-se a todo o tipo de outsiders, cristãos- Castro do Rio e de muitos outros.
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novos nomeadamente, que depressa atingiram Nesta nova sociedade e mentalidade,
um lugar cimeiro entre a mais alta e poderosa caracterizada por um centralismo de corte,
nobreza cortesã. É o paradigmático caso dos onde era mais o dinheiro e menos a linhagem
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Carneiro e dos Alcáçovas , dos Brandão (de ou o valor que começava a determinar o
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Duarte Brandão ), dos Alte e Espargosa , dos estatuto de cada um, os altos cargos da
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governança e os proventos (legítimos e
50 Sobre esta temática, vide João Cordeiro Pereira, “A ilegítimos) que permitiam, passaram a ser um
estrutura social e o seu devir”, in Nova História de trampolim indispensável à ascensão social,
Portugal, Vol. V, pp. 277-336; Fernanda Olival, “Juristas
e mercadores à conquista das honras : quatro processos muito mais do que os feitos de guerra, apesar
de nobilitação quinhentista”, in Revista de História do norte de África e da Índia. 55
Económica e Social, vol. 4, 2002, (II), pp. 7-53; e Maria
Valentina Cotta do Amaral, “Privilégios de mercadores Cristóvão Mendes de Carvalho era um fidalgo
estrangeiros no reinado de D. João III”, Lisboa 1965, IAC. da velha guarda, que sempre se comportou
51 Os Carneiro, que se ligariam por casamento aos como tal, servindo o rei com prejuízo da sua
Alcáçovas, começaram a sua ascensão social com o fazenda, enquanto à sua volta via toda a
secretário António Carneiro, que casou com a irmã
herdeira de Fernão de Alcáçova, escrivão da fazenda gente enriquecer. Como ele próprio diz, “tem
de D. João III, ambos filhos de Pedro de Alcáçova, aguora menos do q tinha quando começou
almoxarife de Arzila e escrivão da câmara de D. Afonso a seruir”, chamando a atenção do rei para
V, plebeu que nasceu na alcáçova do castelo de Lisboa a “perda e diminuicão de sua fazenda porq
e daí lhe vem o nome. D. Afonso V armou-o cavaleiro
após a tomada de Alcácer e D. João II nobilitou-o por
carta de armas novas de 4.1.1490 (Chancelaria de D. Esteves e Simão Gonçalves (Simão Gonçalves Preto,
João II, Liv. 9, fól. 104; e 2 de Místicos, fól. 82). seu genro, chanceler-mor do reino) fossem Fidalgos
52 Filho do rico mercador judeu Jocob Baru (falecido em de sollar conhecido”. Ambas estas famílias, que muito
1471), foi para a Holanda e depois para Inglaterra, onde enriqueceram, ligaram-se depois à principal nobreza.
o rei Edward IV o baptizou de pé com o nome de Edward 54 Diogo, Luís e Martim de Crasto foram ricos cristãos-
Brampton, o armou cavaleiro (documenta-se como Sir) novos de Lisboa. Diogo emprestou a D. João III 100.000
e lhe deu o governo da ilha de Guernsey. Com a morte cruzados para o socorro a Mazagão e mandou à sua
deste rei voltou a Portugal, adoptando o nome de custa muitas caravelas para o mesmo efeito. Foram
Duarte Brandão, tendo comprado a lezíria da Corte dos nobilitados em 1561 com o nome Castro do Rio, na
Cavalos, no termo de Azambuja, ao conde de Abrantes regência da rainha viúva D. Catarina (ANTT, Chancelaria
D. João de Almeida, e a vila de Buarcos, com as marinas de D. Sebastião, Liv. 2, fól. 304v; e ib, P., Liv. 2, fól.
de Tavarede e a dízima nova de Montemor-o-Velho, a 124). Diogo de Castro do Rio comprou o senhorio de
Martim de Sepúlveda, tudo bens da coroa que D. João Barbacena a D. Fernando de Faro Henriques, c.g. nos
II lhe confirmou de juro e herdade a 14 de Janeiro e viscondes de Barbacena e em boa parte da nobreza da
22 de Maio de 1487, sendo então já do seu Conselho corte.
e continuando a sê-lo com D. Manuel. A 19.5.1509 fez- 55 Vide Norbert Elias, “O Processo Civilizacional”, 1989,
se execução nos bens de Duarte Brandão, por 120.708 Edições Dom Quixote; Célio Juvenal Costa, “O rei D.
reais que ficou devendo como provedor das capelas do João III (1521-1557) e a construção da sociedade de
rei D. Afonso IV (ANTT, Corpo Cronológico, p. I, mç 8, corte em Portugal”, in www.uel.br/grupo-estudo/
nº 8). processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais14/
53 O licenciado Cristóvão Esteves, judeu baptizado em arquivos/textos/Mesa_Coordenada/Trabalhos_
pé, chegou a desembargador do Paço e ao Conselho Completos/Celio_Juvenal_Costa.pdf.; Maria Leonor
de D. João III, que o nobilitou com o apelido de García da Cruz, “As controvérsias ao tempo de D. João
Espargosa (ou Esparragoza), por carta de armas novas III sobre a política portuguesa no Norte de África”,
de 3.11.1533 (ANTT, Chancelaria de D. João III, 46, 104 Lisboa 1997, e “A governação de D. João III: a Fazenda
e 45, 66). Já com D. Manuel tinha sido procurador dos Real e os seus vedores”, Lisboa 1998; Sara Loureiro,
feitos da fazenda. Era filho de Mestre Estêvão (Isac “Reconstituição e análise da documentação produzida
antes do baptismo), boticário em Beja. Também seu por Afonso Mexia, escrivão da Câmara e da Fazenda de
irmão, o licenciado Bernardim Esteves, foi chanceler D. Manuel I e de D. João III”, in http://arquivomunicipal.
da Casa do Cível, desembargador da Casa da Suplicação cm-lisboa.pt/fotos/editor2/91.pdf.; Transc. de Luís de
e dos feitos da fazenda e igualmente nobilitado com Albuquerque, “Cartas de D. João de Castro a D. João III”,
o apelido de Alte (ANTT, Chancelaria de D. João III, Lisboa, Alfa 1989; e João Paulo de Oliveira e Costa, “Os
P., 4, 143). O rei chegou ao apuro de determinar que capitães-mores da carreira da Índia no reinado de D.
fosse “Fidalgo, e nobre como se toda sua avoenga o João III”, in “A carreira da Índia: actas do V Simpósio de
fora”, e como “se o dito sollar fora antigo, e os Pays, História Marítima”; [org.] Academia de Marinha; [org.]
Auós, bisauós, e tresauós dos ditos L. Bernardim Bernardino Cadete - Lisboa AM, 2003.
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