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FRAGMENTA HISTORICA                     Cristóvão Mendes de Carvalho  ‐ História de um alto
                                                            magistrado quinhentista e de sua família

           alguns  anos,  e  herdou  casas  na  cidade  de   por  morte  deste  rei,  em  1557  escreveu  ao
           Guimarães,  onde  nasceu.  Certamente  teve   jovem D. Sebastião que aqui destaco como a
           casa também em Lisboa, onde terá falecido. Em   mais relevante. Trata-se de um in-fólio de 10
           1530, ou pouco antes, instituiu os morgadios   páginas,  nove  delas  manuscritas  e  uma  em
           de Vila Maior e de Lamarosa, este último na   branco, sem rasuras, mas sem endereço nem
           quinta do mesmo nome que teve em dote de   assinatura,  pelo  que  mais  parece  uma  cópia
           casamento, no termo da dita vila de Tentúgal.  que o licenciado fez para si ou mandou fazer
                                                      por terceiro. A carta não foi datada, mas resulta
                                                      evidente do seu conteúdo que foi escrita logo
           Uma carta notável                          após a morte, a 11.7.1557, de D. João III.
                                                                                       43
           Para além de dezenas de mandados e certidões   Trata-se de uma cópia manuscrita pelo próprio
           assinados  pelo  Licenciado  Cristóvão  Mendes   Cristóvão Mendes de Carvalho ou é uma minuta
           no  exercício  dos  seus  cargos,  ficaram  cartas   da petição que fez, redigida por terceiro? Para
           que lhe enviaram D. Manuel  e D. João III , e   responder,  comparei  as  cartas  (assinadas)
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                                 38
           cópia de várias cartas que ele escreveu a este   que  escreveu  ao  longo  da  vida,  muitas  sem
           rei , uma para o seu secretário  e uma para   indicação do ano, e seleccionei duas:
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                                    41
           D.  Sebastião.  Todas  as  cartas  que  Cristóvão
                                                                           44
           Mendes  de  Carvalho  enviou  a  D.  João  III  são   Uma de 21 de Dezembro , sem indicação do
           interessantes e importantes contributos para o   ano,  onde  Cristóvão  Mendes  informa  o  rei
           estudo da Justiça, da administração pública e   sobre os problemas da reforma da renda das
           até da corrupção em Portugal.  Mas é a que,   sisas de Mirandela e outros lugares da região e
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                                                      se refere ao irmão, contador de Entre-Douro-e-
           bois,  e  um  palheiro  com  quintalejo,  que  servia  para   Minho.  Embora não seja referido o ano, pelo
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           desaguar  as  águas  das  casas.  Para  sul  existia  outra   conteúdo e o mês sabemos que foi escrita em
           propriedade com casas térreas que eram alugadas. Para
           trás das duas propriedades, existia uma grande extensão   1526. Esta carta já está endereçada (“Sñor”) e
           de terra lavradia com laranjeiras e uma cisterna. Mas esta   assinada.
           casa descrita seria outra, que ficou para outros Couceiro,
           também descendentes do antedito Fernão Couceiro, que   Outra escrita em Lisboa a 17.1.1549, de duas
           foram morgados de São Miguel.              páginas  manuscritas,  igualmente  endereçada
           38  ANTT, Colecção de cartas, Núcleo Antigo 877, nº 262.  e assinada, onde Cristóvão Mendes, vereador
           39  ANTT, Corpo Cronológico, p. I, mç. 75, nº 54.
           40  ANTT, Colecção de cartas, Núcleo Antigo 877, nº 227;   presidente  da  Câmara,  dá  parte  ao  rei  dos
           Corpo Cronológico, p. I, mç. 43, nº 109; ib, mç. 76, nºs   problemas resultantes da provisão que passara
           29, 68, 69 e 106; ib, mç. 82, nº 19; Gavetas, gav. 2, mç.   para que os mesteres assistissem ao tomar das
           8, nºs 2, 3, 4, 5, e 7; e mç. 11, nº 2.    contas dos gastos da cidade, pois isso lhes dá
           41  ANTT, Colecção de cartas, Núcleo Antigo 877, nº 165;
           e “As Gavetas da Torre do Tombo”, Lisboa, Centro de   uma grande opressão, e um dia vão, outro não,
           Estudos de História Ultramarina, 1975, Vol. XI, p. 81.   e  tudo  o  que  fazem  acaba  nulo,  por  não  ser
           42  Mesmo na carta que aqui se publica estes aspectos
           são relevantes, como adiante se vai detalhando e a sua
           publicação na íntegra permite constatar. Podendo aqui   do que deuião”, e “achou os portos da dita comarqua
           fazer uma especial referência à questão da corrupção,   mal  arrematados  e  mandou  chamar  os  rendeiros
           patente em várias observações do Dr. Cristóvão Mendes   e  mostroulhes  os  cõluios  que  per  escrituras  elle
           de  Carvalho,  nomeadamente  quando,  a  propósito   descubrio”, e “tirou outros tributos e sojeições ao pouo
           da  arrematação  dos  portos  da  Beira,  diz  que  ”achou   sospendendo m   oficiais  q  a  mor  parte  depois  forão
                                                                 tos
           q ouuera niso cõluio” e que “pola m  diligencia q fez   condenados”.
                                    ta
           cos  rendeiros  lho  cõfesarão”.  Ou  quando,  tirando   43  ANTT, Gavetas, gav. 2, mç. 11, nº 2. Em “As Gavetas
           devassa aos contadores da fazenda e das terças, “achou   da Torre do Tombo”,  Lisboa,  Centro  de  Estudos
           as terças da beira mal arrendadas e por cõcerto”,   Históricos Ultramarinos, Vol. 1, 1960, p. 925, esta carta
           mandando “proceder cõtra os oficiais das ditas terras   consta  como  sendo  de  1546,  conclusão  errada  e  não
           sem seruirē mais seus ofícios”. Ou quando “achou nos   fundamentada.
           almoxarifados  da  guarda  uiseu,  e  lamego  m  cousas   44  ANTT, Gavetas, gav. 2, mç. 8, nº 2.
                                         tas
           mal leuadas a custa de s. a.”, e “nos almoxarifados de   45  Dois seus irmãos exerceram o cargo de contador da
           uila real e torre de mõcoruo achou que leuauão a sua   comarca  de  Entre-Douro-e-Minho:  João  Mendes  de
           a.  quatorze  mil  e  quinhentos  cruzados  mal  leuados”,   Carvalho e o Dr. Henrique da Cunha. A eles me refiro
           e “nos ditos almoxarifados leuauão ao pouo m  mais   com detalhe na resenha genealógica publicada no final.
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