Page 38 - [000783]_Neat
P. 38
Uma das questões que se levantam no debate sobre a ética empresarial é saber se
a actividade de gestão deve, ou não, adoptar os mesmos valores das outras áreas da vida
social.
Em certas actividades, a ética é visível. Um juíz, um sacerdote ou um médico
estão conscientes da carga ética da sua acção. Apesar de, por vezes, a cumprirem de
uma forma “rotineira e mecânica”, em geral, temos (nós e eles) uma percepção da
relevância moral dessas actividades. Nas empresas as coisas não deviam ser muito
diferentes. Porque aqui tomam-se decisões que afectam a vida das pessoas (J.C.Neves,
2008).
Durante muito tempo, devido à dificuldade em cumprir, ao mesmo tempo,
critérios éticos e de natureza económica, pensou-se que só uma versão “mitigada” da
ética possibilitaria ao gestor solucionar os dilemas éticos que surgissem e ser bem
32
sucedido na sua actividade .
Apesar de qualquer decisão empresarial ter uma dimensão ética (tal como tem
33
uma dimensão financeira, de mercado, etc. ), considerar a utilização de critérios de
características morais no processo de gestão é interpretado como um sinal de fraqueza,
34
de ineficiência, etc. Esta situação resulta do pretexto da separação aristotélica entre o
universo privado e o universo empresarial, a que corresponderiam dois sistemas de
35
valores distintos :
- A prosperidade e o lucro fazem parte dos valores empresariais.
- A responsabilidade social das empresas limita-se à utilização dos recursos da
empresa de modo mais eficiente para que aumentem os seus resultados e o valor para o
accionista.
Autores como Carr (1989) citado por Rego et al. (2007b) reconhecem que os
níveis de competição existentes no mundo dos negócios só encontram alguma
similaridade com os dos jogo. Assim, segundo o autor, desse ponto de vista, há
legitimidade em aplicar ao meio empresarial a ética do jogo e não a da ética privada.
Daqui percebe-se que determinados comportamentos inaceitáveis noutras áreas
são aceitáveis no meio empresarial pois fazem parte das “regras do jogo” e da natureza
36
das interacções que ocorrem em contexto de negócio . Esta ideia parece sugerir que a
32
O`Neil & Pienta, (1994), cit. in Rego et al., (2007b).
33
Werhane & Freeman (1999) citados por Rego et al. (2007b).
34
Bird & Waters (1989) citados por Rego et al. (2007b).
35
Kitson & Campbell (1996) citados por Rego et al. (2007b).
36
Carson (1993); Cabral-Cardoso (1998) citados por Rego et al. (2007b).
38