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seus adeptos pela lógica das suas razões, mas, ao mesmo tempo, confunde-os com as
incertezas que manipula. Os riscos que ambas correm são, por isso mesmo, diferentes:
na primeira, há sempre a possibilidade de haver fanatismo, com a caça às bruxas; na
segunda, o perigo da conversão do cepticismo em cinismo é real, justificando o uso de
meios cruéis para se alcançar os objectivos propostos.
A ética é também muitas vezes conotada com a lei. Na realidade, o
enquadramento legal de uma sociedade estabelece as linhas morais que aquela deseja
ver cumpridas. Portanto, a finalidade da lei é ética. A lei deve servir como um guia
orientador das acções. Todavia, importa perceber que a lei não é, em si mesma, a
justiça, deve ser interpretada e aplicada de uma forma equitativa, daí que seja entregue a
juízes e tribunais para a sua aplicação. (J.C.Neves, 2008).
Por seu lado Rego et al. (2007b) referem que a lei traduz a moralidade em linhas
claras de orientação social e práticas, estabelecendo punições para as infracções, mas
não é garantido que a lei seja ética. De facto, é um dever ético actuar de acordo com as
normas estipuladas na lei. Contudo, importa perceber que a legalidade de uma prática
não vincula o cidadão a adoptá-la, porque existe um espaço de liberdade individual que
permite a cada um agir de acordo com a sua consciência, sem que por isso infrinja
qualquer código de ética ou qualquer lei (Barbosa, 2007).
No entanto, pode ser-se ético não cumprindo a lei. A escravatura foi legal e a
proibição da liberdade de expressão ainda o é em alguns países totalitários. De acordo
com os princípios éticos, dificilmente estas leis podem ser consideradas defensáveis. Os
cidadãos que se opõem à sua aplicação podem ser punidos judicialmente.
Em alguns países, as empresas multinacionais cumprem a legislação local, mas
esta não respeita os direitos dos cidadãos nem a sua dignidade. Assim, à luz dos valores
éticos, a conduta destas empresas não pode ser considerada ética (Blecher, 2004 cit. in
Rego et al, 2007b).
Por outro lado, é possível ser-se pouco ético ao cumprir a lei. Por exemplo, as
empresas podem prejudicar a saúde dos seus colaboradores porque não existe na
legislação regras que impedem o uso de determinados equipamentos ou produtos.
É importante também referir que o facto de uma pessoa ou de uma empresa ser
punida por lei não significa culpa ética ou moral. A história mostra-nos que muitos
foram condenados judicialmente por cometerem ilegalidades. Contudo, as suas acções
revestem-se de princípios éticos inatacáveis, como é o caso da conduta de Nelson
Mandela na luta contra o apartheid (Rego et al, 2007b).
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