Page 112 - DEUS É SOBERANO - A. W. Pink
P. 112

Vontade Humana                                         107

          coisa e aceitar outra.  O lado positivo e o negativo precisam
          calar presentes na mente, antes que possa haver escolha. Em
          cada  ato  da  vontade  há uma preferência  —  o  desejar  uma
          coisa e não outra.  Quando não há preferência, mas completa
          indiferença,  não há volição.  Querer é escolher, e escolher é
          decidir entre alternativas. Mas há algo que influencia a escolha,
          algo que determina a decisão. A vontade, pois, não pode ser
          soberana,  porque  é  escrava  desse  algo  que  a  influencia  e
          determina. A vontade não pode ser soberana e serva ao mesmo
          Icmpo. Ela não pode ser tanto a causa como o efeito, porque,
          como dissemos, algo a induz a fazer uma escolha; portanto,
          esse  algo  tem  de  ser  o  agente  causai.  A  própria  escolha  é
          afetada por  certas  considerações,  é  determinada  por  várias
          influências que operam sobre o próprio indivíduo.  Assim,  a
          volição é o efeito dessas considerações e influências; e, se é o
          efeito, logo deve ser-lhes serva. Ora, se a vontade é serva de
          tais  considerações  e  influências,  já  não  é  soberana.  E  se  a
          vontade não é soberana, não lhe podemos atribuir “liberdade”
          absoluta. Os atos da vontade não se produzem por si mesmos;
          dizer que podem é postular um efeito sem causa.  “Ex nihilo
          nihil fit” — do nada, nada se faz.
                 Em todos os tempos, porém,  tem havido os que sus­
          tentam a absoluta liberdade ou soberania da vontade humana.
          Argumentam que a vontade tem um poder autodeterminativo.
          Como exemplo,  dizem que posso voltar os olhos para cima
          ou para baixo;  a mente é indiferente  quanto ao  que faço;  a
          vontade é que tem de decidir. Porém, isso é uma contradição
          de  termos.  Pressupõe-se  que  eu  escolho  uma  coisa  em
          preferência à outra, quando estou em um estado de completa
          indiferença.  É óbvio que ambas não podem ser verdadeiras.
          Pode-se replicar que a mente permaneceu indiferente até que
          demonstrou  uma  preferência.  Exatamente  nessa  ocasião,  a
          vontade  também  permanecia  quiescente!  Porém,  logo  que
          desapareceu a indiferença,  foi feita a escolha, e o fato de ter
          a indiferença cedido lugar à preferência derruba o argumento
          de  que  a  vontade  tem  a  capacidade  de  escolher  entre  duas
   107   108   109   110   111   112   113   114   115   116   117