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Lama Padma Samten – Nascendo no Lótus


            Os   cinco   Diani   budas   são   o   próprio   Buda   primordial,   mas   começamos   a   pensar   neles   como
            individualidades, porque temos esse olho da individualidade. Nesta abordagem a liberação se conclui
            com a iluminação de alayavijnana , não é que existam seres, existe alayavijnana, e quando é
            purificada, o que não significa “zerada”,  é então que, enfim, podemos andar em meio às coisas sem
            ficar presos. Por exemplo, um avô vendo o neto brincando joga, mas não está preso ao jogo.
            Alayavijnana é uma emanação da natureza primordial também, mas não há nada que possa ser
            individualizado, ela não pode ser vista nem de um modo direto, pois isso significaria o surgimento de
            um observador. Ver de forma direta já é vijnana, “vi” é essa dualidade. Alaya é depósito, jnana é
            sabedoria, vijnana é sabedoria condicionada, dual. Para mim, alayavijnana seria aquilo que Jung se
            inspirou para falar de inconsciente coletivo. São estruturas cármicas de resposta automatizada, duais.
            Mas chamamos isso de sabedoria porque aquilo brota como nível de resposta no mundo. Podemos
            olhar isso como arquétipos, mas ainda assim temos que olhar com cuidado, porque a noção de
            arquétipo é contraditória à noção de vacuidade. Aqui seria uma estrutura vazia por si mesma, mas ela
            está lá. Quando a noção de arquétipo surge, não está dentro de um contexto onde a vacuidade
            aparece, nem é cogitada, e quando é introduzida essa noção, perguntamos se o arquétipo é vazio ou
            é cósmico, permanente?





            A função dos CEBBs

            Mas   o   que   fazemos   no   meio   disso?   Nós   temos   o   CEBB,   implantamos   a   cultura   de   paz,   a
            responsabilidade universal, também tentamos trabalhar as relações a nível social e individual. Então
            surge   o   Instituto   Caminho   do   Meio,   que   tem   por   interesse   especial   chegar   às   pessoas   que
            normalmente não chegariam ao CEBB. Aqueles que vêm pela aspiração própria de meditar são um
            número pequeno de pessoas. A cultura de paz é muito ampla e precisa chegar a todos, não precisa
            ser algo budista. Este é um trabalho Mahayana, trabalhamos para ajudar na educação, sociedade,
            economia, em várias atividades grandes, já o CEBB fica pequeno, acolhe somente os que querem
            meditar e entender. É como se houvesse um bloco de cultura de paz, que é o Instituto e outro para
            aqueles que gostariam de se aprofundar, transformar a si mesmos, porque descobrem que parte do
            obstáculo, se não a totalidade, está dentro mesmo. Para poder exercer este âmbito positivo fora, é
            preciso fazer esta transformação e gerar lucidez. Então trabalhamos todo o processo – os Quatro
            Pensamentos que Transformam a Mente, as Quatro Nobres Verdades, estudos, meditação, retiros...
            O caminho gradual é importante, pois aquilo serve ou não, de acordo com o ponto em que a pessoa
            está. Há aquela pessoa que tem devoção, ela recebe o mantra e pronto. Por ela achar isso muito
            elevado já se transforma, sem precisar entender o que é; outras precisam saber o que é que aquilo
            potencializa; outras, mesmo sabendo, não têm devoção e aquilo não funciona. Por isso os métodos
            não são universais, são caso a caso. Se a pessoa não se adapta, ela não é uma má pessoa. A devoção
            pode ser um caminho.

            Eu já prefiro o silêncio e o questionamento, por mais que a devoção funcione muito bem!  Porque por
            trás da devoção pode se gerar devoção por um engano, essa é a opinião de S.S. Dalai Lama, deve
            haver questionamento. Se houver devoção, é melhor que venha junto com a compreensão. Por trás
            de um fanatismo há sempre devoções, por trás de devoções pode haver morte, assassinatos, guerras.


            CEBB - Retiro Araras – maio 2009                                                            39 / 43
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