Page 38 - 2010_02_20_Nascendo_no_Lotus_-_Retiro_Araras_Maio_2009
P. 38
Lama Padma Samten – Nascendo no Lótus
do samsara. Não há nada que seja concreto no sentido material. Por exemplo, vamos ter experiências
em que perdemos a sabedoria, aí temos a experiência de materialidade das coisas. Mas quando
acessamos a lucidez junto vem a sabedoria do espelho, da coemergência, da prajnaparamita.
Reconhecemos o surgimento daquilo a partir da experiência do código fonte de alayavijnana.
Reconhecemos que a estrutura mental que estamos utilizando propicia aquela experiência de
materialidade, de solidez, de tudo que está à nossa frente, e ao mesmo tempo já sabemos como
dissolver aquela aparência e como ajudar os outros diante daquilo. No sétimo bhumi ainda
precisamos acionar isso. No oitavo bhumi isso se torna residente, não desliga mais, para que desligar?
Esse bhumi é chamado inabalável. A imagem que Chagdud Rinpoche usava para isso era a de mestres
que são como faróis, incessantemente ligados; serenos, incessantemente lúcidos, derramando a luz e
ajudando os seres. Isso é maravilhoso! Ele continuava: há outros como eu, que são como vaga-lumes,
a luz acende de vez em quando... Com certeza não era isso!
Com isso concluímos a etapa de meditação, o segundo bloco, que nos leva do sexto para o sétimo e
oitavo bhumis. O primeiro bloco, visão, vai até o final do Caminho Óctuplo. Depois disso vem a ação
no mundo, que começa no nono. Neste bloco treinamos a ação no mundo – é assim, o farol está
parado, não está? Eu movo a luz, mas está parado. No nono bhumi ele começa a andar, o farol
caminha! Na verdade é quando o Buda se levantou e foi atrás de seus cinco companheiros, e começa
o período de quarenta e quatro anos em que ele perambula por dentro da Índia e do Nepal. Agora ele
se move para localizar os obstáculos e ajudar as pessoas. O último bloco é o nono e o décimo bhumis.
Darmamega
O décimo é mais profundo ainda, porque no nono o Buda ainda se move, no décimo já está nas
pessoas. Surge como Darmamega, é como uma nuvem de sabedoria que faz pingar as gotas que têm
a semente de sabedoria nas mentes das pessoas. Ele não precisa perambular, já é uma boa nuvem
acima de tudo. Ele chove, uma chuva da boa lei que umedece a semente de sabedoria na mente da
cada um. É como se o Buda se manifestasse dentro de cada um, sem a necessidade de andar
fisicamente no mundo. Hoje vemos o Buda como Darmamega. Na época que ele era Tatágata, nono
bhumi, estava na Índia e no Nepal. Agora que ele é Darmamega está em todos os lugares, por isso há
tanta proliferação de centros budistas, e esse é o ponto final.
Nós estamos fazendo alguma coisa no meio disto, que é trabalhar esta etapa da visão. Aqui estamos
jogando luz nos obstáculos, usando eles como caminho de lucidez. Iremos perceber que esta etapa é
bem complexa, e vamos usando um método circular. Se fizermos um pouquinho de cada coisa - ou
seja, fazemos melhor a primeira, fazemos todo o círculo e entendemos melhor a cultura de paz - aos
poucos, de tanto girar, cada parte vai ficando mais nítida, até mesmo porque não tem como vencer
cada etapa por completo. Todas elas estão misturadas. Como isso acontece? O Buda primordial
emana uma forma de qualidade que é ele mesmo, e os humanos dão um nome e se fixam àquilo, mas
o próprio Buda volta à condição dele.
CEBB - Retiro Araras – maio 2009 38 / 43