Page 37 - 2010_02_20_Nascendo_no_Lotus_-_Retiro_Araras_Maio_2009
P. 37
Lama Padma Samten – Nascendo no Lótus
A explicação da identidade do “eu”: isto perde a objetividade, agora há um nível de liberdade, as
contradições com respeito às noções de um eu são tão grandes que a noção de “eu” se perde, ela
perde a utilidade prática. A nossa natureza é o espaço, não temos algo que possamos definir
propriamente, então é como quando se aproxima a noção de Darmata, vamos nos identificar com a
inteligência de Darmata, do destemor, da liberdade que nos permite surgir de várias formas. Mas
qualquer uma das formas em que surgirmos não seremos nós. Esse também é um aspecto sutil da
sabedoria do espelho: o espelho manifesta também a sabedoria de Darmata. Reflete qualquer
imagem, ainda que ele apresente uma imagem, ele não é aquela imagem. As identidades são imagens
que surgem no espelho, nós somos o espelho, não as imagens. É como o lago, ele não é as ondas, as
ondas vêm e vão, o lago está lá. Nós somos o lago onde existem as ondas, não somos os surfistas.
Este é um aspecto delicado porque não somos a negação do surfista, o surfista é uma expressão
dessa liberdade, é uma onda também.
No céu de alayavijnana é como se houvesse vários pacotes de inteligências possíveis, difícil ser
original. A pessoa está com raiva, esta raiva é minha! E todos riem...a raiva é sua! Essa aqui é a raiva,
a velha conhecida! Antes de nascer já havia essa raiva, quando você morrer, a raiva segue! Então
começamos a olhar desse modo, que é uma inteligência impessoal, a natureza livre se associa a esse
conjunto de inteligências, que é chamado de alaya. Vijnana são inteligências condicionadas. Jnana é
sabedoria, vijnana é dual, inteligência dual. Alayavijnana então, é o depósito das inteligência duais. A
inteligência dos meditantes vai ao ponto de perceber de onde as coisas vêm, estão lá, não são algo
original, como “eu quero uma coisa nova: a raiva!” Aquilo está lá há muito tempo. Podemos nos
conectar ou não. A nossa noção de individualidade começa a aparecer assim: temos um foco de
consciência que é como uma lanterna, está passando pelos arquivos de alayavijnana, aquilo ilumina
um pedaço e o resto fica escuro, nós estamos operando ali dentro daquele pedaço, sentimos que
somos aquilo. Mais adiante estaremos em outros pedaços de alayavijnana. Quando seguimos com as
nossas vidas comuns, este processo de liberdade é muito limitado. Quando começamos a meditar
temos a capacidade de nos deslocar por regiões, isso é possível especialmente pela sabedoria do
espelho. Começamos a entender as pessoas nos vários ambientes, e então começamos a nos
deslocar, mudamos nosso foco de alayavijnana, nos diversos lugares. O importante é que façamos
contato e não sejamos arrastados, e isso já é shamata pura, eu acesso mas não sou arrastado. Aí vem
a compaixão, sou capaz de atuar ali dentro, sem ficar preso. Nessa etapa de meditação temos o
sentido de compaixão - aspecto Mahayana, no aspecto Tantrayana, utilizamos o obstáculo como
caminho.
Nesse momento, alayavijnana inteira se transforma em nosso caminho, vamos ter que entrar em cada
região e gerar os antídotos e dissolver a sensibilidade para cada região. Não tem como desenvolver
essa sensibilidade sem entrar em contato. É uma etapa que o próprio Buda descreve no seu processo
de iluminação, quando ele relembra todas as vidas passadas, o que significa relembrar todos os
cantinhos de alayavijnana onde ele já tinha andado. No sétimo bhumi chegamos a uma região
complicada, acessamos a lucidez e vencemos aquele obstáculo. Aí atingimos a realização com
respeito àquilo. Então voltamos à condição de relaxamento. Vamos treinar essa capacidade de ter
lucidez sempre que necessário. Dentro de alayavijnana estão as raízes de todas as manifestações
comuns, mas em alayavijnana já estamos no “código fonte do samsara”, e assim não estamos nos
defrontando com um estado de samsara denso, e sim com as estruturas que vão gerar a experiência
CEBB - Retiro Araras – maio 2009 37 / 43