Page 69 - Microsoft Word - Mark.W.Baker-Jesus.o.maior.psicologo.que.ja.existiu[doc-re–
P. 69
P Freqüentava algumas reuniões de grupo na sua igreja, mas nunca tinha feito
P
amizade com ninguém. Grace se via como uma pessoa desajustada que queria
desesperadamente pertencer a algum grupo. Se alguém lhe dava atenção, ela se
agarrava a essa pessoa como se este fosse o único contato humano que iria obter.
Grace detestava ser tão carente, mas não conseguia mudar.
No início, Grace telefonava para mim com relativa assiduidade entre as consultas
por causa de alguma crise sobre a qual queria conversar. Aumentamos a freqüência
das sessões, o que ajudou, mas Grace ainda se via envolvida em estados
emocionais com os quais não conseguia lidar. Ela precisava telefonar-me para pedir
ajuda. Grace não queria admitir, mas estava com medo de ter me transformado em
um ídolo e de ser uma pessoa fraca demais para lidar com as dificuldades sem a
minha ajuda. Era como se fosse viciada no nosso relacionamento, precisando de
"doses" regulares de minha ajuda para conseguir atravessar a maioria dos dias.
Com o tempo, Grace e eu viemos a perceber que o seu problema não era o fato de
ela depender excessivamente de mim e sim de ela ter horror de depender de mim.
Quando coisas desagradáveis lhe aconteciam, ela dizia para si mesma que dessa
vez não iria me telefonar, porque precisa lidar sozinha com os problemas. Essa
situação acabava causando mais ansiedade, pois, além de enfrentar o problema que
a estava incomodando, ela ainda tinha que lidar com a vontade de não precisar de
mim. O aumento da ansiedade fazia com que Grace sentisse uma necessidade
ainda maior de falar comigo, vontade que procurava combater, e em pouco tempo
ela se via dominada por um pânico insuportável. Grace acabava sentindo-se como
um viciado em drogas na fase de desintoxicação, precisando desesperadamente
ouvir a minha voz para se acalmar.
As coisas começaram a mudar quando ela parou de achar que era excessivamente
carente e compreendeu que precisar de mim era uma parte normal do processo da
terapia. Quando Grace aceitou o fato de que dependia de mim, ela ficou mais livre
para lidar com os seus sentimentos durante a semana sem o peso da vergonha de
ter necessidade de falar comigo a respeito deles. Seus telefonemas diminuíram,
porque ela já não se criticava tanto por querer me telefonar. Na maioria das vezes,
passou simplesmente a ligar para a minha caixa postal e deixar uma mensagem,
sem precisar que eu ligasse de volta. O simples fato de saber que podia contar
comigo já era suficiente. Como Grace não estava mais se sentindo tão mal por
precisar de mim, deixou de alimentar sentimentos muito negativos com relação a si
mesma. Afinal de contas, talvez ela não fosse uma pessoa tão fraca, mas apenas
uma mulher que de vez em quando tinha sentimentos intensos e queria ter a certeza
de que outra pessoa a entenderia.
Apesar de ter demorado um pouco, Grace veio a compreender um aspecto
fundamental da sua condição humana contra o qual estivera lutando. As pessoas
são criaturas dependentes. Precisamos dos outros para sermos completos. Grace
percebeu na sua própria vida que Jesus pedia que confiássemos nele, não porque
fôssemos fracos e carentes, mas porque esta é a única maneira pela qual podemos
crescer plenamente.
Jesus encorajava as pessoas a confiarem nele e a contarem com ele. Ele não
encarava a dependência como um problema, mas como algo necessário para uma
vida espiritual realizada. Jesus compreendia que os seres humanos precisam
depender de Deus e dos outros para sobreviver. Tentar ser totalmente independente
significa rejeitar a nossa natureza fundamental. Para Jesus, a nossa capacidade de
ser vulneráveis e acolher a nossa dependência é que nos conduz à totalidade.