Page 119 - Fortaleza Digital
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Becker não tinha a menor intenção de esperar dez horas até que um gordo e uma
prostituta aparecessem para tomar o café da manhã.
- Entendo - disse. - Lamento perturbá-lo. - Virou-se e andou de volta para o
saguão. Dirigiu-se diretamente para uma escrivaninha de cerejeira de tampo
corrediço que chamara sua atenção quando entrou. Nela havia um grande
número de cartões-postais e de papel de carta do Alfonso XIII, assim como
canetas e envelopes. Becker selou uma folha de papel em branco dentro de um
envelope e escreveu uma palavra na frente do mesmo.
ROCÍO.
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Depois retomou ao recepcionista.
- Perdoe-me por incomodá-lo novamente - disse Becker, aproximandose
constrangido. - Estou sendo um pouco tolo, devo admitir. Esperava poder dizer a
Rodo, pessoalmente, o quanto apreciei o tempo que passamos juntos
recentemente. Mas vou ter que partir esta noite, então vou apenas deixar este
bilhete para ela. - E deixou o envelope sobre o balcão.
O recepcionista olhou para o envelope e sussurrou pesarosamente para si
mesmo: Outro heterossexual desesperadamente apaixonado. Que desperdício.
Olhou para cima e sorriu.
- Sim, claro, senhor...?
- Buisán - disse Becker. - Miguel Buisán.
- Claro. Fique tranqüilo que Rodo receberá a mensagem pela manhã.
- Obrigado. - Becker sorriu e virou-se na direção da saída. O recepcionista, após
olhar discretamente para a bunda de David, pegou o envelope que estava sobre o
balcão e virou-se para os escaninhos numerados atrás dele. Ele tinha acabado de
colocar o envelope em um deles quando Becker voltou-se com uma última
pergunta.
- Onde é que eu poderia encontrar um táxi?
O recepcionista virou-se e respondeu. Mas Becker não estava prestando atenção
na resposta. O timing havia sido perfeito. A mão do recepcionista acabava de sair
do escaninho da suíte 301. Becker agradeceu e foi saindo lentamente, enquanto
procurava o elevador. Entrar e sair, repetiu para si mesmo.