Page 123 - Fortaleza Digital
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- Não por muito tempo - Hale respondeu, presunçoso. 132
- Não me faça promessas...
- Estou falando sério. Alguma hora vou cair fora daqui.
- Vou ficar arrasada.
Naquele momento, Susan percebeu que desejava culpar Hale por tudo que
estava dando errado. Queria culpá-lo pelo Fortaleza Digital, por seus problemas
com David, pelo fato de que não estava no chalé nas montanhas... Nada disso era
culpa dele, contudo. Seu único problema real era ser desagradável. Susan
precisava ser mais forte, condescendente. Era sua responsabilidade, como chefe
da Criptografia, manter a paz, conduzir, educar. Hale ainda era jovem e
inocente. Susan olhou novamente para ele. Era uma pena, pensou, que Hale
tivesse o talento necessário para ser uma peça importante para a Criptografia,
mas, ao mesmo tempo, ainda não tivesse entendido a magnitude do trabalho que
a NSA realizava.
- Greg, estou muito estressada hoje - disse ela, com um tom de voz sereno. - Fico
irritada quando você fala da NSA como se fôssemos voyeurs munidos de alta
tecnologia. Esta organização foi fundada com um propósito: tornar mais eficaz a
segurança da nação. Algumas vezes é
preciso perturbar a paz de todos para garantir que vamos descobrir as laranjas
podres em meio às boas. Acho que muitos cidadãos ficariam felizes em
sacrificar um pouco de sua privacidade para saber que os
"vilões" não podem agir livremente. Hale permaneceu em silêncio.
- Mais cedo ou mais tarde - continuou ela -, os cidadãos dessa nação terão que
decidir em quem confiar. Há muitas coisas boas por aí, mas há
também muitas coisas ruins misturadas. Alguém precisa ter acesso a tudo isso
para poder separar aquilo que está certo do que está errado. Esse é o nosso
trabalho. É o nosso dever. Não importa o que cada um de nós deseje, há um
frágil por tal separando a democracia da anarquia. A NSA é a guardiã desse
portal.
Hale assentiu, pensativo.
- Quis custodiet ipsos custodes?
Susan olhou para ele, sem entender.