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CAPÍTULO 105
      Uma bola de fogo subindo através de três milhões de chips de silício gera um
      som único. Uma floresta em chamas estalando e crepitando, um tornado
      uivando, um jato de vapor saído de um gêiser... todos esses sons, juntos,
      aprisionados dentro de um invólucro reverberante. Era o sopro do demônio,
      correndo por uma caverna fechada, procurando uma saída. Strathmore
      permaneceu ajoelhado, hipnotizado pelo ruído terrível que subia em sua direção.
      O computador mais caro do mundo estava prestes a se transformar em um
      inferno. Em câmara lenta, Strathmore virou-se para Susan, que continuava ao
      lado da porta da Criptografia, paralisada. Sua face, coberta de lágrimas, parecia
      reluzir sob a luz fluorescente. É um anjo, pensou. Buscou o paraíso nos olhos dela,
      mas tudo que podia ver era morte, a morte da confiança. O amor e a honra não
      estavam mais presentes. A fantasia que o sustentara durante todos aqueles anos
      estava morta. Susan Fletcher nunca seria sua. Nunca. O vazio que tomou conta
      dele era desesperador.
      Susan observava o TRANSLTR com um olhar vago. Sabia que, sob aquele
      revestimento de cerâmica, uma bola de fogo avançava na direção deles. Ela
      podia sentir a bola se movendo cada vez mais rápido, alimentando-se do oxigênio
      liberado pelos chips que queimavam. Dentro de alguns momentos, o domo da
      Criptografia se transformaria em um inferno de chamas.
      Ela queria correr, mas o peso da morte de David a mantinha estática. Pensou ter
      ouvido sua voz chamando-a, dizendo que fugisse, mas não havia lugar algum
      para onde correr. A Criptografia era.um túmulo fechado. Não importava: não
      tinha medo. A morte iria acabar com a dor. Ela estaria novamente com David.
      O chão da Criptografia começou a tremer como se, lá embaixo, um monstro
      furioso estivesse saindo das profundezas. A voz de David parecia dizer: Corra,
      Susan! Corra!
      Strathmore agora se movia na direção dela, a face desprovida de vida. Seus olhos
      tinham se tornado cinzentos e frios. O patriota que vivera na 359
      mente de Susan como um herói estava morto. Em seu lugar havia um assassino.
      Ele a abraçou novamente, agarrando-se a ela em desespero. Beijou seu rosto.
      - Perdoe-me - implorou.
      Susan tentou afastar-se, mas Strathmore a segurava. O TRANSLTR começou a
      vibrar como um míssil prestes a ser lançado. O chão da Criptografia começou a
      tremer. Strathmore segurou-a com mais força. - Abrace-me, Susan. Preciso de
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