Page 96 - Fortaleza Digital
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Seus pensamentos foram interrompidos pelo ruído sibilante das portas de vidro se
      abrindo. Ela olhou para a frente e viu o criptógrafo Greg Hale que acabara de
      entrar.
      Greg Hale era alto e musculoso, com um cabelo louro cheio e uma cova
      profunda no queixo. Falava alto, era meio grosseiro e usava roupas sempre
      exageradamente chiques para a ocasião. Os outros criptógrafos haviam lhe dado
      o apelido de "Halita” por conta do mineral. Hale sempre presumiu que se tratasse
      de alguma pedra preciosa, fazendo um paralelo com seu intelecto superior e seu
      corpo musculoso. Caso seu ego permitisse que ele consultasse uma enciclopédia,
      teria descoberto que se tratava de uma formação simples de NaCl, um resíduo de
      sal que se formava em alguns lugares quando a água do mar secava. Como todos
      os criptógrafos da NSA, Hale ganhava muito bem. Mas era difícil para ele não
      alardear esse fato aos quatro ventos. Dirigia uma Lótus branca com teto solar e
      um sistema de som capaz de arrasar quarteirões. Era um viciado em gadgets, e
      seu carro era uma espécie de salão de exposições. Nele, Hale tinha instalado um
      sistema computadorizado de posicionamento global (GPS), trancas de portas
      ativadas por voz, um bloqueador de radar de cinco bandas e um 101
      telefone/fax celular, de forma a poder acessar sempre seus serviços de
      mensagens eletrônicas.
      Greg Hale tinha sido resgatado de uma infância repleta de pequenos delitos pelo
      U.S. Marine Corps, o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. Foi lá que
      ele começou a estudar informática. Era um dos melhores programadores que os
      marines já tiveram e tinha tudo para seguir uma brilhante carreira militar.
      Porém, dois dias antes de completar sua terceira viagem a trabalho, seu futuro
      mudou. Hale matou acidentalmente um colega, em uma briga de bar. O tae-
      kwon-do, arte marcial coreana, mostrou-se uma eficaz forma de ataque, mais do
      que de defesa. Foi imediatamente retirado da ativa. Após um pequeno período na
      prisão, Hale começou a procurar emprego no setor privado como programador.
      Era sempre sincero a respeito do incidente durante o tempo em que serviu como
      fuzileiro naval e atraía potenciais empregadores oferecendo-lhes um mês de
      trabalho sem pagamento para provar do que era capaz. Não foram poucos os que
      aceitaram e, quando os chefes descobriam o que ele podia fazer com um
      computador, não o deixavam partir. À medida que seus conhecimentos de
      programação foram crescendo, Hale começou a fazer contatos pela Internet em
      todo o mundo. Era um dos membros de um novo grupo de cyber-freaks que
      trocavam e-mails mais ou menos suspeitos com pessoas de vários países. Foi
      demitido de duas empresas por ter usado suas contas de trabalho para enviar
      fotos pornográficas para alguns amigos.
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