Page 165 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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uma serpente de prata. Além, muito além, ficava o mar; além do mar, o
céu, coberto de nuvens avermelhadas pelo pôr-do-sol.
Onde o país de Nárnia se encontra com o mar – na foz do grande rio
– brilhava alguma coisa no alto de uma colina. Era um castelo com todas as
janelas voltadas para Pedro e para o poente, refletindo a luz do Sol. Parecia
uma estrela imensa a descansar na praia.
– Aquilo, ó humano, é Cair Paravel, dos quatro tronos, num dos
quais você há de sentar-se como rei. É o primeiro a vê-lo por ser o
primogênito; e será o Grande Rei, acima de todos os outros.
Pedro não chegou a falar: um ruído estranho feriu o silêncio. Era
como um som de clarim, só que mais impressionante.
– É sua irmã que faz soar a trompa – disse Aslam a Pedro, falando
baixinho, tão baixo que parecia um rosnado, se não é falta de respeito falar
assim.
Por um momento, Pedro não entendeu o que se passava. Aslam, no
entanto, disse, acenando com a pata para as criaturas que avançavam:
– Para trás! Deixem que o príncipe conquiste o seu reino!
Aí compreendeu tudo e partiu correndo para o pavilhão, onde assistiu
a um horroroso espetáculo.
As náiades e as dríades fugiam em todas as direções. Pálida como a
neve, Lúcia corria para ele com suas perninhas curtas. Susana também
corria e tentava subir a uma árvore, perseguida por um monstruoso bicho
pardo. A princípio, Pedro julgou que fosse um urso; achou depois que era
um pastor-alemão, se bem que fosse grande demais para ser um cachorro.
Só então viu que era um lobo, que empinava, rosnava, golpeava com as
patas no tronco da árvore, o pêlo todo eriçado. Susana não conseguia passar
do segundo galho, com uma perna suspensa, o pé a uns dez centímetros dos
dentes ferozes do polícia secreta da Feiticeira Branca. “Por que ela não
sobe mais?” – pensava Pedro. – “Pelo menos, por que não se segura com
mais firmeza?” Só então reparou que a pobre garota estava quase
desmaiando. Se desmaiasse...
Pedro não estava sentindo uma coragem extraordinária. Verdade seja
dita, estava até começando a sentir-se mal... Mas isso não o impediu de
fazer o que tinha de ser feito. Correu direto ao monstro e fez menção de
vibrar-lhe um golpe com a espada. O golpe não chegou ao alvo. Como um
relâmpago, a fera voltou-se, os olhos em fogo, boca escancarada, uivando
de raiva. Teria despedaçado o menino, se não estivesse tão raivoso. Mas foi
assim. Com toda a força, Pedro enterrou a espada entre as patas do lobo,
bem no coração. Seguiu-se um momento pavoroso, de tremenda confusão,
como num pesadelo. Pedro lutava desesperadamente. O lobo não parecia