Page 170 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– E se ela transformar os leopardos em estátua de pedra? –
murmurou Lúcia para Pedro.
Acho que os leopardos tiveram a mesma idéia. Estavam
completamente arrepiados, de rabo em pé, como um gato na presença de
um cão estranho.
– Não tenha medo – cochichou Pedro. – Ele sabe o que faz.
Pouco depois, era a própria feiticeira que aparecia no alto da colina,
dirigindo-se sem hesitar para junto de Aslam. Os três, que nunca a tinham
visto, sentiram um frio na barriga quando a olharam de frente. Alguns
animais começaram a rosnar. Embora fizesse um sol magnífico, todos se
sentiram gelados de repente. As únicas pessoas que pareciam estar
absolutamente à vontade eram Aslam e a própria feiticeira. Estranho
espetáculo: um rosto dourado e um rosto nevado... tão perto um do outro.
Não que a feiticeira olhasse Aslam bem de frente. A Sra. Castor não deixou
de reparar nisso.
– Há um traidor aqui, Aslam! – declarou a feiticeira.
Todos os presentes entenderam. Mas Edmundo, depois da conversa
pela manhã e de tudo o mais, não deu bola. Continuou simplesmente a
olhar para Aslam. Estava esnobando a feiticeira, e com razão.
– Não foi bem a você que ele ofendeu – disse Aslam.
– Já se esqueceu da Magia Profunda? – perguntou a feiticeira.
– Digamos que sim – replicou Aslam, solenemente. – Fale-nos da
Magia Profunda.
– Falar-lhe da Magia Profunda?! Eu?! – disse a feiticeira, numa voz
ainda mais aguda. – Falar-lhe do que está escrito nessa Mesa de Pedra aí ao
lado? Falar-lhe do que está escrito em letras do tamanho de uma espada,
cravadas nas pedras de fogo da Montanha Secreta? Falar-lhe do que está
gravado no cetro do Imperador de Além-Mar? Se alguém conhece tão bem
quanto eu o poder mágico a que o Imperador sujeitou Nárnia desde o
princípio dos tempos, esse alguém é você. Sabe que todo traidor, pela lei, é
presa minha, e que tenho direito de matá-lo!
– Ah! – disse o Sr. Castor. – Já estou entendendo por que foi que
você se arvorou em rainha... Você era o carrasco-mor do Imperador!
– Calma, Castor, calma – disse Aslam, em voz baixa e arrastada.
– Portanto – continuou a feiticeira, – essa criatura humana me
pertence. A vida dela me pertence. Tenho direito ao seu sangue.
– Então venha bebê-lo, se for capaz – disse o Touro que tinha cabeça
de homem.