Page 171 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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–  Débil  mental!  –  disse  a  feiticeira,  com  um  riso  de  fúria  que  era
                  quase um grunhido. – Está tão convencido assim de que o seu senhor me
                  pode privar dos meus direitos pela força? Ele conhece bem demais a Magia
                  Profunda para atrever-se a isso. Sabe que, a não ser que eu receba o sangue
                  a que a lei me dá direito, toda a terra de Nárnia será subvertida e perecerá
                  em água e fogo.

                         – É verdade! – disse Aslam. – Não posso negá-lo.

                         –  Oh!  Aslam!  –  sussurrou  Susana,  ao  ouvido  do  Leão.  –  Não
                  podemos nós... quer dizer, isto é, não vai acontecer nada, não é? Não se
                  pode dar um jeito nessa Magia Profunda?

                         – Enfrentar o poder mágico do Imperador?
                         Aslam  voltou-se  para  ela,  com  o  rosto  ligeiramente  carregado.  E
                  ninguém mais tocou naquele assunto.

                         Edmundo fitou Aslam o tempo todo. Sentia-se sufocado e perguntava
                  a si mesmo se devia dizer alguma coisa: compreendeu que não devia dizer
                  coisa nenhuma, só esperar e cumprir o que lhe fosse ordenado.

                         – Afastem-se – disse Aslam. – Preciso falar a sós com a feiticeira.

                         Foram  momentos  terríveis  de  longa  espera.  Que  estaria  o  Leão  a
                  combinar?  Lúcia  disse  apenas  “Oh,  Edmundo!”,  e  começou  a  chorar.
                  Pedro,  de  costas  para  os  outros,  olhava  o  mar  distante.  Cabisbaixos,  os
                  castores davam a mão um ao outro. Os centauros, nervosos, batiam com os
                  cascos no chão. Por fim todos se acalmaram e foi um silêncio daqueles de
                  ouvir zumbido de abelha, esvoaçar de passarinho e sussurrar de brisa na
                  folhagem. E a conversa continuava.

                         Finalmente ouviu-se a voz de Aslam.
                         – Venham todos. Tudo resolvido. Ela renunciou ao direito que tinha
                  ao sangue de Edmundo.

                         Pela encosta, ouviu-se um ruído, como se todos tivessem começado a
                  respirar ao mesmo tempo. Foi um pipocar de opiniões.

                         A  feiticeira,  com  uma  expressão  de  feroz  alegria,  já  estava  se
                  afastando quando parou e disse:

                         – Mas quem me garante que a promessa será cumprida?
                         –  Raaaa-a-aarrgh!  –  rugiu  Aslam,  erguendo-se  do  trono.  E  suas
                  fauces  ficaram  escancaradas.  O  rugido  rimbombou.  A  feiticeira,  atônita,
                  agarrou a saia e fugiu como se tivesse a vida em perigo.
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