Page 175 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Crianças, vocês ficam aqui. Aconteça o que acontecer, fiquem bem
escondidas. Adeus!
As duas meninas choraram copiosamente (embora mal soubessem o
motivo), agarraram-se ao Leão, deram-lhe beijos na juba, no nariz, nas
patas, nos grandes olhos tristes. Depois, ele se afastou e foi sozinho para o
alto da colina. Escondidas nas últimas moitas, Susana e Lúcia ficaram
espiando.
Vou lhe contar o que elas viram.
Uma imensa multidão estava reunida em torno da Mesa de Pedra.
Embora o luar clareasse tudo, muitos traziam tochas, que ardiam com
sinistras chamas vermelhas e fumo negro.
Que bicharada! Ogres de dentes monstruosos! Lobos! Homens com
cabeça de touro! Espíritos de árvores más e de plantas venenosas! Não falo
de outros seres porque, se fizesse isso, as pessoas adultas não o deixariam
ler este livro: vulpinos, bruxas, íncubos, fúrias, horrores, espectros, sátiros,
lobisomens... Estavam ali todos os que eram do partido da feiticeira,
convocados pelo lobo. No centro, em pé junto da mesa, estava a própria
feiticeira.
No momento em que viram o enorme Leão dirigir-se para elas,
aquelas criaturas soltaram uivos e grunhidos de terror. Até a feiticeira
pareceu por um instante paralisada de medo. Mas dominou-se e deu uma
selvagem gargalhada.
– O louco! O louco está chegando! Amarrem bem o louco!
Lúcia e Susana pararam de respirar, aguardando o rugido de Aslam e
o ataque ao inimigo. Mas nada! Quatro bruxas, rindo zombeteiras (a
princípio, a uma certa distância, receosas de cumprir sua missão),
aproximaram-se dele.
– Amarrem o louco, já disse!
As bruxas correram para ele com um uivo de triunfo, ao verem que
não oferecia resistência. Anões e macacos malignos chegaram de todos os
lados para ajudá-las. Deitaram o Leão de costas. Amarraram-lhe as quatro
patas, gritando e dando vivas, como se tivessem cometido um ato de
bravura. Claro que, se o Leão quisesse, uma patada seria a morte para eles.
Mas ficou quieto, mesmo quando os inimigos rasgaram a sua carne de tanto
esticarem as cordas. Depois, começaram a arrastá-lo para o centro da mesa.
– Alto! – disse a feiticeira. – Primeiro, cortem-lhe a juba!
Uma gargalhada mesquinha ressoou quando um ogre, de tesoura na
mão, avançou e se pôs de cócoras junto da cabeça do leão. Zip, zip, zip – a
tesoura rangia, e montes de caracóis dourados tombavam ao chão. O ogre