Page 180 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Estou morrendo de frio, Susana.

                         – Eu também. E se a gente andasse um pouquinho?

                         Foram ao extremo da colina e olharam para baixo. A grande estrela
                  solitária  desaparecera.  Toda  a  paisagem  da  terra  tinha  um  ar  cinzento-
                  escuro; mas, para além, muito longe, lá no fim do mundo, o mar brilhava,
                  pálido.  Havia  tons  róseos  no  céu.  Andaram  para  lá  e  para  cá,  inúmeras
                  vezes,  do  corpo  morto de  Aslam  ao  sopé  da  colina.  Em  certo  momento,
                  ficaram imóveis olhando para o mar e para o castelo de Cair Paravel, que
                  só agora começaram a distinguir. E enquanto ali estavam, no lugar em que
                  a terra se acaba e o mar começa, o vermelho tornou-se dourado, e o sol
                  começou a surgir devagarinho. Foi quando ouviram um grande barulho, um
                  barulho  ensurdecedor  de  uma  coisa  que  estala,  como  se  um  gigante
                  acabasse de quebrar um prato gigantesco.

                         –  Que  barulho  foi  esse?  –  disse  Lúcia,  agarrando-se  ao  braço  de
                  Susana.
                         – Não sei. Estou com medo... estou com medo de olhar...

                         – Devem ter voltado... Vamos olhar! – E Lúcia virou-se, obrigando
                  Susana a fazer o mesmo.

                         O  sol  dera  a  tudo  uma  aparência  tão  diferente,  alterando  de  tal
                  maneira  as  cores  e  as  sombras,  que  por  um  momento  não  repararam  na
                  coisa de fato importante. Até que viram. A Mesa de Pedra estava partida
                  em duas por uma grande fenda, que ia de lado a lado. E de Aslam, nem
                  sombra.

                         – Oh! Oh! Oh! – gritaram as meninas, correndo para a mesa.

                         – Isso é demais! Podiam ao menos ter deixado o corpo em paz.
                         – Mas que coisa é essa? Ainda será magia?

                         –  Magia,  sim!  –  disse  uma  voz  forte,  pertinho  delas.  –  Ainda  é
                  magia.

                         Olharam.  Iluminado  pelo  sol  nascente,  maior  do  que  antes,  Aslam
                  sacudia a juba (pelo visto, tinha voltado a crescer).

                         –  Aslam!  Aslam!  –  exclamaram  as  meninas,  espantadas,  olhando
                  para ele, ao mesmo tempo as sustadas e felizes.
                         – Você não está morto?

                         – Agora, não.

                         –  Mas  você  não  é...  um...  um...?  –  Susana,  trêmula,  não  teve  a
                  coragem de usar a palavra “fantasma”.
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