Page 182 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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O  Leão  abaixou-se  e  as  crianças  subiram  no  seu  dorso  morno  e
                  dourado: Susana primeiro, agarrando-se na juba com toda a força; Lúcia
                  depois, agarrando-se firmemente em Susana. O Leão ergueu-se e partiu em
                  disparada, descendo a colina e entrando pela floresta.

                         Foi talvez a coisa mais fabulosa que lhes aconteceu em Nárnia. Você
                  já galopou num cavalo? Então, faça de conta que vai a cavalo. Elimine o
                  barulho  dos  cascos,  o  ranger  do  freio;  imagine  as  passadas  quase
                  silenciosas do Leão. Agora, em vez do dorso preto, cinza ou castanho do
                  cavalo,  imagine  o  pêlo  macio  e  dourado,  e  a  juba  esvoaçando  ao  vento.
                  Imagine também que está galopando duas vezes mais depressa que o mais
                  rápido cavalo de corrida. E não se esqueça de que esta montaria não precisa
                  ser  guiada  e  que  nunca  se  cansa.  Galopa,  galopa,  sem  tropeçar,  sem
                  hesitações,  abrindo  caminho  com  grande  habilidade  entre  as  árvores,
                  saltando arbustos, moitas e riachos, atravessando os mais largos a vau, e a
                  nado  os  rios  maiores.  Mas  não  é  cavalgar  por  uma  estrada,  nem  num
                  parque, nem sequer por uma encosta gramada, mas através de Nárnia, na
                  primavera, ao longo de bosques lindíssimos inundados de sol, entre brancos
                  pomares  de  cerejeiras  em  flor,  passando  por  barulhentas  cachoeiras,
                  percorrendo gargantas perigosas, descendo, descendo de novo para os vales
                  agrestes e os campos enfeitados de flores azuladas.

                         Era quase meio-dia quando, do alto de uma vertente escarpada, viram
                  um castelo – parecia um castelinho de brinquedo – todo espetado de torres.
                  Mas  o  Leão  descia  a  tal  velocidade  que  ele  crescia  a  cada  momento.  E,
                  antes  de  qualquer  pergunta,  já  estavam  ao  pé  do  castelo.  Já  não  era  de
                  brinquedo. Nenhum rosto surgiu nas ameias e os portões estavam fechados.
                  Aslam, sem diminuir a corrida, precipitou-se para ele como uma flecha.

                         – E a casa da feiticeira! – gritou. – Segurem firme!

                         E foi como se o mundo virasse de cabeça para baixo. Foi aquele frio
                  gelado  na  barriga.  Pois  o  Leão  tomava  distância  para  o  maior  salto  da
                  história, galgando – voando, posso dizer, por cima da muralha do castelo.
                  Ofegantes, mas sem um arranhão, as duas se viram no centro de um grande
                  pátio cheio de estátuas de pedra.
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