Page 183 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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O QUE ACONTECEU COM AS ESTÁTUAS
– Que lugar estranho! – exclamou Lúcia. – Quantos bichos de pedra! E
gente também! Parece até um museu!
– Psiu! – fez Susana. – Olhe o que Aslam está fazendo.
Aslam aproximou-se do leão de pedra e soprou. Deu meia-volta,
como um gato querendo agarrar o próprio rabo, e soprou também sobre o
anão de pedra. Saltou sobre uma grande dríade de pedra, voltou-se
rapidamente para um coelhinho petrificado à direita, correu para dois
centauros.
– Susana, Susana! Olhe o leão!
Já viu alguém chegar um fósforo aceso a um pedaço de jornal num
fogão de lenha? Parece no princípio que não aconteceu nada; depois, você
nota uma chamazinha fraca na beirada do papel. Aconteceu uma coisa
muito parecida. Durante os primeiros segundos, depois do sopro, o leão de
pedra ficou igualzinho. Depois, um fio dourado, muito fraquinho, começou
a andar por seu corpo branco de mármore e foi aumentando... Daí a pouco,
a cor lambia as costas do leão como o fogo lambe um pedaço de jornal. Por
fim, enquanto as patas traseiras continuavam de pedra, o leão sacudiu a
juba, e as pesadas ondulações marmóreas que o cobriam ficaram
encrespadas, já transformadas em pêlo. Escancarou então a grande boca
vermelha, quente e viva, num impressionante bocejo. E já as patas traseiras
voltaram à vida. Levantou uma e coçou-se. Vendo Aslam, correu para ele
aos pulos de pura felicidade, lambendo o rosto do Rei.
E as estátuas voltaram à vida por todos os lados. O pátio já não
parecia um museu: era um jardim zoológico. Seres de todos os tamanhos,
de todas as formas, corriam atrás de Aslam, dançando em torno dele.
Desaparecera a brancura de morte: o pátio era festival de cores, com dorsos
lustrosos e castanhos de centauros, chifres anilados de unicórnios,
plumagens deslumbrantes, o pardo-avermelhado das raposas, cães, sátiros,
meias amarelas e capuzes vermelhos de anões. E espíritos de bétulas em
túnicas de prata, espíritos de faias envoltos num verde fresco e
transparente, espíritos de vidoeiros vestidos de verde tão brilhante que
quase parecia amarelo. Sumira o silêncio de cemitério; o pátio ressoava
com um som alegre de rugidos, zurros, latidos, uivos, grunhidos, arrulhos,
relinchos, gritos, canções e risos.