Page 168 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 168

Reúna  os  vampiros,  os  duendes,  os  ogres,  os  minotauros.  Chame  os
                  vulpinos, as bruxas, os espectros, as almas dos cogumelos bravos. Vamos
                  lutar.  Ah!  Não  tenho  ainda  a  minha  vara?  Com  ela  não  transformei  as
                  hostes deles em estátuas de pedra? Agora vá. Tenho um trabalhinho a fazer
                  na sua ausência.

                         O bruto fez um sinal com a cabeça, deu meia-volta e se foi.

                         –  Ora,  mesa  não  temos...  Espere  aí...  O  mais  prático  é  atá-lo  ao
                  tronco de uma árvore.

                         Edmundo  sentiu-se  agarrado  brutalmente  e  forçado  a  manter-se  de
                  pé.  O  anão  amarrou-o  fortemente  a  uma  árvore.  A  vista  de  Edmundo,  a
                  feiticeira abriu o manto, deixando aparecer dois braços nus, aflitivamente
                  brancos.  E  só  os  viu  porque  eram  mesmo  muito  brancos,  mas  não
                  distinguiu quase mais nada, tal era a escuridão que reinava.
                         – Prepare a vítima.

                         O anão desabotoou a camisa de Edmundo. Pegando o menino pelos
                  cabelos,  puxou-lhe  a  cabeça  para  trás,  forçando-o  a  levantar  o  queixo.
                  Edmundo  ouviu  um  ruído  esquisito  ...zzz...zzz...zzz...  A  princípio  não
                  conseguiu perceber o que era, mas depois compreendeu que alguém estava
                  afiando uma faca.

                         E  ouviu  gritos  que  vinham  de  todas  as  direções...  um  repicar  de
                  cascos, um tatalar de asas... e um grito agudo da feiticeira... Reinava em
                  torno a maior confusão. Alguém o desatava da árvore. Vozes vibrantes e
                  bondosas falavam com ele...

                         –  Deitem-no...  Dêem-lhe  um  pouco  de  vinho...  Beba  isso...
                  Coragem!... Não é nada...

                         E havia outras vozes: “Quem agarrou a feiticeira?” “Pensei que você
                  a tivesse agarrado”... “Sumiu depois que soltou o facão”... “Corri mas foi
                  atrás do anão”... “Quer dizer que ela fugiu?”... “Ei, o que é aquilo? Ah, não
                  é nada, apenas um tronco caído”. Foi quando Edmundo perdeu os sentidos.
                         Os centauros, os unicórnios, os veados e os pássaros (que formavam
                  o batalhão enviado por Aslam no capítulo anterior) puseram-se a caminho,
                  de regresso à Mesa de Pedra, levando consigo o menino. Mas teriam ficado
                  se pudessem ter visto o que aconteceu em seguida naquele vale.

                         O silêncio era absoluto. A lua começava a brilhar. Se você estivesse
                  lá,  teria  visto  o  luar  banhar  um  velho  tronco  de  árvore  e  uma  rocha
                  arredondada.  E,  se  continuasse  a  olhar,  teria  pouco  a  pouco  notado
                  qualquer coisa de estranho no tronco e na rocha. O tronco era parecidíssimo
                  com um homem baixo e gordo, agachado no chão. Veria o tronco caminhar
                  ao  encontro  da  pedra  e  a  pedra  sentar-se  e  começar  a  conversar  com  o
   163   164   165   166   167   168   169   170   171   172   173