Page 407 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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–  Homens  de  Teimar  –  começou  Aslam.  –  Vocês,  que  procuram
                  nova pátria, ouçam–me. Mandá–los–ei para a sua terra, que eu conheço e
                  vocês não!

                         – Não nos lembramos mais de Teimar. Não sabemos onde fica nem
                  como é – murmuraram os telmarinos.

                         –  Vocês  vieram  de  Teimar  para  Nárnia  –  disse  Aslam.  –  Mas
                  chegaram  a  Teimar  provenientes  de  outro  lugar.  Não  pertencem  a  este
                  mundo. Chegaram aqui há algumas gerações, vindos do mesmo mundo a
                  que pertence o Grande Rei Pedro.

                         Ao ouvirem isto, alguns dos telmarinos começaram a resmungar.
                         – Não falei? Vai liquidar a gente. Vai mandar a gente para o outro
                  lado do mundo.

                         Outros começaram, empertigados, a dar pancadinhas nas costas uns
                  dos outros, dizendo:

                         –  Agora  entendemos  tudo.  Não  era  tão  difícil  adivinhar  que  não
                  pertencíamos ao mundo desta gente esquisita e detestável. Corre em nossas
                  veias sangue real.

                         Até Caspian, Cornelius e as crianças se voltaram para Aslam, com ar
                  de espanto.

                         –  Silêncio!  –  disse  Aslam,  num  tom  de  voz  baixo  que  mais  se
                  aproximava do seu rugido normal. A terra pareceu estremecer um pouco, e
                  todos os seres vivos ficaram imóveis como estátuas.
                         – Você, Caspian – disse Aslam –, bem podia ter adivinhado que não
                  poderia ser o verdadeiro rei de Nárnia se não fosse, como os antigos reis,
                  filho de Adão, vindo do mundo dos filhos de Adão. É o que você é. Há
                  muitos anos aconteceu que, nesse outro mundo, em um lugar chamado Mar
                  do  Sul,  um  barco  de  piratas  foi  arrastado  para  uma  ilha  por  uma
                  tempestade.  Os  piratas  fizeram  o  que  costumam  fazer:  mataram  os
                  indígenas,  tomaram  as  mulheres  por  esposas,  dormiram  à  sombra  das
                  palmeiras, acordaram, discutiram, matando–se de vez em quando uns aos
                  outros. Numa dessas refregas, seis deles, obrigados a fugir, foram com as
                  mulheres  para  o  centro  da  ilha;  subiram  depois  a  montanha  e  se
                  esconderam numa caverna. Acontece que a caverna era um lugar mágico,
                  uma das fendas abertas entre aquele mundo e este. E foi assim que caíram
                  ou rolaram pela tal passagem e se encontraram de repente neste mundo, na
                  terra de Teimar, que era então desabitada. Por que era desabitada é uma
                  longa história, que não contarei agora. Os seus descendentes viveram em
                  Teimar e formaram um povo arrogante e temido; passadas muitas gerações,
                  houve  em  Teimar  uma  grande  fome  e  por  isso  invadiram  Nárnia,  onde
                  reinava então uma certa desordem (outra longa história), e conquistaram–
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