Page 404 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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–  Por  que  todos  os  seus  seguidores  estão  de  espada  na  mão?  –
                  perguntou Aslam.

                         – Com licença de Vossa Majestade – disse o segundo rato, que se
                  chamava Pipcik. – Estamos todos prontos a cortar a cauda se o nosso chefe
                  ficar  sem  a  dele.  Não  queremos  ostentar  uma  honra  que  é  negada  ao
                  Grande Rato.

                         –  Ah!  –  rugiu  Aslam.  Vocês  venceram!  São  muito  corajosos.  Não
                  pela sua dignidade, Ripchip, mas pelo amor que o liga ao seu povo e, mais
                  ainda, pela bondade que o seu povo mostrou para comigo, há muitos anos,
                  quando  roeu  as  cordas  que  me  prendiam  à  Mesa  de  Pedra  (se  bem  que
                  tenham esquecido, foi nessa ocasião que começaram a falar), você terá de
                  novo a sua cauda.

                         Mal Aslam acabara de pronunciar estas palavras e já a cauda estava
                  em  seu  lugar.  Então,  seguindo  as  instruções  de  Aslam,  Pedro  conferiu  a
                  Caspian a dignidade de Cavaleiro da Ordem do Leão, e Caspian, uma vez
                  armado  cavaleiro,  conferiu  a  honra  a  Caça–trufas,  Trumpkin  e  Ripchip,
                  declarando o doutor Cornelius seu Supremo Magistrado e confirmando ao
                  Urso  Barrigudo  o  direito  hereditário  de  Arbitro.  Tudo  isto  no  meio  de
                  grandes aplausos.
                         Os  soldados  telmarinos  foram  então  conduzidos,  firmemente,  mas
                  sem  insultos  nem  pancada,  para  a  outra  margem  do  Beruna,  e  ficaram
                  prisioneiros  na  cidade,  recebendo  aí  carne  e  bebida.  Fizeram  grande
                  berreiro  quando  atravessaram  o  rio  a  vau,  porque  detestavam  a  água
                  corrente, tanto quanto detestavam e temiam os bosques e animais. Por fim,
                  também essa balbúrdia acabou e começou a parte mais agradável daquele
                  longo dia.

                         Lúcia,  sentada  junto  de  Aslam  e  sentindo–se  divinamente  feliz,
                  perguntava  a  si  própria  o  que  é  que  as  árvores  estariam  fazendo.  A
                  princípio achou que estivessem simplesmente dançando, pois moviam–se
                  lentamente  em  dois  círculos,  um  que  girava  da  esquerda  para  a  direita,
                  outro  que  ia  da  direita  para  o  meio  dos  círculos.  Parecia  às  vezes  que
                  cortavam longas mechas de cabelos. Outras, porém, davam a idéia de que
                  arrancavam pedaços dos dedos... mas, se assim era, deviam ter dedos para
                  dar e vender e (parecia) não sentiam nem um pouquinho de dor. Fosse o
                  que fosse que atirassem, ao tocar o chão se transformava em lenha seca.
                  Três ou quatro anões vieram e atearam fogo à lenha, que começou a estalar

                  e a fazer labaredas, até que crepitou como uma grande fogueira em noite de
                  São ,’ João. Fizeram um círculo em redor.
                         Então Baco, Sileno e as mênades deram início a uma dança muito
                  mais  animada  do  que  a  das  árvores.  Não  era  apenas  uma  dança  de
                  divertimento  e  beleza,  mas  também  uma  dança  mágica  de  abundância,
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