Page 405 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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porque, onde quer que as suas mãos ou os seus pés tocassem, surgia um
                  verdadeiro banquete: nacos de carne assada, que enchiam o bosque com o
                  seu delicioso aroma; bolos de aveia e trigo; mel e doces de muitas cores;
                  creme de leite espesso, pêssegos, ameixas, romãs, pêras, uvas, morangos...
                  verdadeiras  cataratas  de  frutas.  Depois  foi  a vez dos vinhos em  taças  de
                  madeira e vasos entrelaçados com hera. Vinhos escuros e espessos como
                  licor  de  amoras,  outros  de  um  vermelho–vivo  como  geléia  rubra  e
                  derretida, e ainda outros amarelos e verdes, e outros amarelo–esverdeados e
                  verde–amarelados.

                         Para  as  árvores  a  comida  era  diferente.  Quando  Lúcia  viu  que
                  Escava–terra e suas toupeiras revolviam a terra em lugares que Baco lhes
                  indicava,  compreendeu  que  as  árvores  iriam  comer  terra  e  sentiu  um
                  arrepio.  Mas,  quando  viu  as  terras  que  lhes  eram  oferecidas,  mudou  de
                  opinião.  Começaram  a  comer  um  esplêndido  torrão  castanho,  que  quase
                  não  se  distinguia  do  chocolate,  tão  parecido  que  Edmundo  provou  um
                  pouquinho, mas não achou nada bom. Depois de terem acalmado a fome
                  com o torrão, as árvores voltaram–se para uma terra quase cor–de–rosa, da
                  qual diziam ser leve e doce. Na hora do queijo, comeram uma porção de
                  solo  calcário,  seguindo–se  depois  petiscos  delicados,  preparados  com  as
                  areias mais finas e polvilhados com areia prateada. Beberam muito pouco
                  vinho,  mas  mesmo  assim  as  quaresmeiras  ficaram  muito  falantes;  quase
                  sempre matavam a sede com longos goles de mistura de chuva e orvalho,
                  aromatizada  com  flores  campestres  e  perfumada  com  a  suave  fragrância
                  das  nuvens  mais  transparentes.  Assim  Aslam  ofereceu  aos  narnianos  um
                  banquete,  que  durou  até  muito  depois  do  pôr–do–sol  e  do  despertar  das
                  primeiras  estrelas.  E  a  grande  fogueira,  agora  mais  rubra  e  menos
                  crepitante, brilhava como um farol no meio dos bosques escuros. Ao vê–la,
                  lá  longe,  os  telmarinos,  aterrados,  perguntaram–se  o  que  seria  aquilo.  O
                  melhor  da  festa  foi  que  ela  não  acabou,  nem  as  pessoas  foram  embora.
                  Simplesmente, à medida que a conversa se espaçava e perdia a animação,
                  um e outro, sentindo a cabeça pesada, adormecia entre os amigos, de pés
                  voltados para a fogueira. Até que finalmente caiu o silêncio e se ouviu de
                  novo  o  parolar  da  água  que  saltitava  de  pedra  em  pedra  no  Passo  do
                  Beruna. Durante toda a noite, Aslam e a Lua contemplaram–se com imensa
                  alegria.

                         No  dia  seguinte,  despacharam–se  mensageiros  (principalmente
                  esquilos e pássaros) por todo o país, com uma comunicação aos telmarinos
                  dispersos,  sem  esquecer  os  que  estavam  presos  em  Beruna.  Foi–lhes
                  anunciado que Caspian era agora o rei e que, a partir daquele  momento,
                  Nárnia pertencia não só aos humanos como aos animais falantes, aos anões,
                  às dríades, aos faunos e a todas as outras criaturas. Quem quisesse aceitar
                  as  novas  condições  poderia  ficar;  para  aqueles  que  não  estivessem
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