Page 400 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Numa  cidadezinha,  a  meio  caminho  do  Dique  dos  Castores,
                  encontraram  outra  escola,  onde  uma  mocinha  com  ar  cansado  ensinava
                  Aritmética  a  uns  meninos  muito  parecidos  com  porquinhos.  A  mocinha
                  olhou pela janela e viu o grupo brincalhão. Tremeu de alegria. Aslam parou
                  debaixo da janela e olhou para ela.

                         –  Oh,  não!  Queria  muito,  mas  não  posso.  Tenho  de  trabalhar.  As
                  crianças morreriam de susto se vissem você.

                         – Morrer de susto? – disse um  menino que,  mais do que qualquer
                  outro,  parecia  um  leitão.  –  Com  quem  está  falando?  Temos  de  dizer  ao
                  diretor  que  ela  fica  conversando  com  as  pessoas  à  janela  quando  a
                  obrigação dela é dar aula.

                         – Só quero ver quem é! – disse outro menino, e todos se levantaram.
                         Mas no momento em que as carinhas bobocas assomaram à janela
                  Baco  soltou  o  seu  euan-euan-eoooi,  e  os  meninos  começaram  a  gritar
                  assustados e atropelaram-se para sair pela porta ou saltar pela janela. Diz-se
                  que esses meninos nunca mais foram vistos, mas que nessa região apareceu
                  uma raça muito apurada de porquinhos que até então nunca havia existido.

                         – Venha, minha cara – disse Aslam à senhorita. E ela foi.

                         No Dique dos Castores voltaram a atravessar o rio e chegaram a uma
                  casinha onde uma menina chorava.

                         – Por que chora, meu bem? – perguntou Aslam. A criança, que nunca
                  vira um leão, nem mesmo desenhado, não se assustou.

                         – Minha tia está muito doente e vai morrer.
                         Aslam  quis  entrar  pela  porta,  mas  era  pequena  demais  para  ele.
                  Enfiou a cabeça, fez força com os ombros (nessa altura, Lúcia e Susana
                  escorregaram e caíram) e, levantando toda a casa, colocou–a abaixo.

                         Na  cama,  agora  ao  ar  livre,  via–se  deitada  uma  velhinha  franzina,
                  que  parecia  ter sangue  de  anão.  Estava  às  portas da  morte,  mas,  quando
                  abriu os olhos e viu a juba brilhante do Leão, não gritou nem desfaleceu.
                  Exclamou apenas:

                         –  Oh,  Aslam!  Sabia que  era  verdade.  Esperei  a  vida  toda  por  este
                  momento. Veio para me levar?

                         – Sim, minha querida – disse Aslam. – Mas ainda não para a viagem
                  final.
                         E,  enquanto  falava,  como  o  rubor  que  se  insinua  nas  nuvens  ao
                  nascer do sol, a cor voltou–lhe ao rosto pálido, os olhos readquiriram brilho

                  e, sentando–se, ela disse:
                         – Estou muito melhor. Acho que seria capaz de comer alguma coisa.
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