Page 395 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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–  Não  é bem  um  ferimento.  Tive de  agüentar o peso dele sobre o
                  escudo...  como  se  fosse  uma  carroça  de  tijolos...  e  a  borda  do  escudo
                  fincou-me no pulso. Se atarem o meu pulso bem apertado, acho que posso
                  agüentar-me.

                         Enquanto fazia isso, Edmundo perguntou, ansioso:

                         – Que tal é ele, Pedro?

                         –  Difícil,  muito  difícil  mesmo.  Talvez  haja  uma  esperança,  se
                  conseguir agüentá-lo até que a falta de fôlego e o próprio peso o cansem...
                  o peso e este sol de rachar. Para falar com franqueza, é com o que posso
                  contar. Se acontecer alguma coisa, Ed, dê lembranças minhas a todos, lá
                  em casa... Miraz está voltando. Adeus, meu velho. Adeus, doutor. Ed, não
                  se esqueça de dizer a Trumpkin que me lembrei dele. Tem sido um amigão.
                         Edmundo não encontrou palavras para responder. Com uma horrível
                  sensação de mal-estar, voltou com o doutor para junto dos seus.

                         O  segundo  encontro  correu  bem.  Pedro  parecia  manejar  o  escudo
                  com  mais  facilidade  e  não  parava  um  instante.  Quase  que  brincava  de
                  esconder com Miraz; mudava constantemente de posição, mantendo-se fora
                  do alcance do inimigo e obrigando-o a mexer-se.

                         – Covarde! – gritaram os telmarinos. – Por que não luta de frente?
                  Está com medo, hein? Aqui não é lugar de dançar, palhaço!

                         –  Tomara  que  ele  não  se  importe  com  o  que  dizem!  –  exclamou
                  Caspian.

                         – Ele?! Você não conhece o Pedro, Caspian. Opa!
                         Miraz acabara de vibrar um golpe no elmo de Pedro. Este escorregou
                  e caiu sobre um joelho. A gritaria dos telmarinos elevou-se como o rugido
                  do mar.

                         – Vamos, Miraz! Mate ele logo!

                         Mas o usurpador não precisava que o incitassem. Já dominava Pedro.
                  Edmundo mordeu os lábios até tirar sangue quando a espada baixou sobre o
                  irmão. Teve a impressão de que a cabeça deste ia saltar. Mas (Deus seja
                  louvado!)  a  lâmina  atingiu  apenas  o  ombro  direito.  A  cota  de  malha,
                  fabricada pelos anões, era resistente e não cedeu.

                         –  Formidável!  –  exclamou  Edmundo.  –  Está  de  pé  outra  vez.
                  Coragem, Pedro!
                         – Não consegui ver o que aconteceu – disse o doutor. – Como é que
                  ele se levantou?

                         – Agarrou-se ao braço de Miraz quando caiu – explicou Trumpkin,
                  pulando de alegria. – Puxa! Como ele é valente! Usa o braço do inimigo
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