Page 390 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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nosso lado, devemos arriscar a vitória num combate individual?
– A minha resposta é que, por todos os motivos, o desafio deve ser
recusado – declarou Glozelle. – Há no rosto daquele estranho cavaleiro
uma ameaça de morte.
– Estamos voltando para a mesma coisa! – disse Miraz, zangado. –
Acham que sou covarde como vocês?
– Vossa Majestade pode pensar o que quiser – replicou Glozelle,
mal-humorado.
– Você está falando como uma velha maluca – disse o rei. – Que
acha, Sopespian?
– Não se arrisque, Real Senhor – foi a resposta. – O aspecto político
da questão vem mesmo a calhar, oferecendo-lhe excelente motivo para uma
recusa, sem deixar que se ponham em dúvida a sua honra e a sua coragem.
– Chega! – exclamou Miraz, levantando-se de repente.
A conversa seguia exatamente o rumo que os dois lordes desejavam,
e por isso nada disseram.
– Compreendo! – prosseguiu Miraz, depois de fitá-los com os olhos
esbugalhados. – Vocês são uns coelhos medrosos e têm a ousadia de achar
que sou também um covarde! Vocês são soldados? São telmarinos? São
homens? Se eu recusar (como aconselham as razões de chefia e política
militar) iriam pensar e levar os outros a pensar que o fiz por medo. É ou
não é?
– Nenhum soldado sensato se atreveria a chamar de covarde um
homem da sua idade, apenas por não querer bater-se com um grande
guerreiro na flor da juventude – disse Glozelle.
– Ah, quer dizer que não só sou covarde, mas sou também um velho
com um pé na cova?! Pois então, senhores, fiquem sabendo de uma coisa:
seus conselhos de maricás (que sempre se afastaram do ponto essencial,
que é a política) conseguiram justamente o contrário do que vocês queriam.
A minha intenção era recusar. Mas agora aceitarei o desafio! Não vou
cobrir-me de vergonha só porque a traição ou algumas artes mágicas (sei lá
o quê!) gelaram o seu sangue!
– Majestade, suplico... – começou Glozelle. Mas Miraz já se
precipitara para fora da tenda e os dois lordes ouviram-no gritando para
Edmundo que aceitava o desafio.
Entreolharam-se e sorriram.
– Tinha a certeza de que, bem manejado, acabaria por aceitar – disse
Glozelle. – Mas não esquecerei que me chamou de covarde. Há de pagar