Page 389 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Está sugerindo que nós dois poderíamos tomar conta do reino?

                         Glozelle franziu a testa, dizendo:

                         – Não devemos esquecer que fomos nós que o colocamos no trono. E
                  afinal, durante todos estes anos de reinado, o que lucramos? Alguma vez
                  ele mostrou gratidão por isto?

                         –  Basta  por  ora  –  disse  Sopespian.  –  Olhe,  estão  nos  chamando  à
                  tenda do rei.
                         Quando  lá  chegaram  viram  que  Edmundo  e  os  seus  dois
                  companheiros,  sentados  do  lado  de  fora  da  tenda,  eram  recebidos  com
                  doces e vinho. Entregue o desafio, tinham-se retirado, esperando que o rei
                  tomasse  uma  decisão.  Ao  verem  os  três  assim  de  perto,  os  dois  lordes
                  telmarinos acharam que tinham um ar temível.

                         Lá  dentro,  Miraz,  desarmado,  acabava  de  almoçar.  Estava  muito
                  vermelho e parecia irritado.

                         –  Vejam  isto!  –  rosnou,  atirando-lhes  o  pergaminho  por  cima  da
                  mesa. – Vejam só a infantilidade e a prosápia do meu sobrinho!

                         – Se me permite, Majestade – começou Glozelle.

                         – Se o jovem guerreiro que está lá fora é o rei Edmundo de que se
                  fala aqui, isso não me parece nem um pouco uma brincadeira de crianças.
                  Parece um cavaleiro perigoso.
                         – Ora, o rei Edmundo! – escarneceu Miraz. – Então acredita nessas
                  lendas de Pedro e Edmundo e essa cambada toda?

                         – Acredito no que os meus olhos vêem, senhor

                         – respondeu Glozelle.
                         – Passemos adiante. No que respeita ao desafio, parece-me que não
                  pode haver duas opiniões entre nós.

                         – Certamente, Real Senhor – concordou Glozelle.

                         – O que acha que se deve fazer? – perguntou o rei.

                         –  Recusar,  sem  dúvida  –  disse  Glozelle.  –  Nunca  fui  um  covarde,
                  mas  tenho  de  confessar  que  me  faltaria  coragem  para  enfrentar  aquele
                  jovem em combate corpo a corpo. Se, como é muito provável, o irmão, o
                  Grande Rei, é ainda mais perigoso do que ele... suplico que o meu senhor
                  não queria nada com ele.

                         – Aos diabos! – exclamou Miraz. – Não foi essa a opinião que pedi.
                  Não perguntei se devia ou não ter medo de enfrentar Pedro (se é que essa
                  criatura  existe!).  Acha  que  tenho  medo  dele?  Queria  apenas  saber  a  sua
                  opinião sobre o aspecto político da questão. Estando a vantagem toda do
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