Page 393 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                                                   CONFUSÃO GERAL






                         Um  pouco  antes  das  duas  horas,  Trumpkin  e  o  texugo  estavam  já
                  sentados com todas as outras criaturas na orla do bosque, olhando para a
                  linha  dos  homens  de  Miraz,  à  distância  de  duas  flechadas.  Entre  uns  e
                  outros,  um  relvado  quadrado  fora  marcado  para  a  luta.  Nos  dois  cantos
                  mais  afastados  postavam-se  Glozelle  e  Sopespian,  de  espada
                  desembainhada:  nos dois  mais próximos estavam  o gigante  Verruma  e o
                  Urso Barrigudo, que, apesar de todas as recomendações, tinha os dedos na
                  boca e, para dizer a verdade, estava fazendo uma figura muito ridícula. Em
                  contrapartida, Ciclone, o centauro, à direita, absolutamente imóvel, a não
                  ser quando escarvava a relva com um dos cascos, tinha um ar bem mais
                  imponente do que o barão telmarino que, à esquerda, estava voltado para
                  ele. Pedro acabara de apertar a mão de Edmundo e do doutor e dirigia-se
                  para o combate. Reinava uma grande tensão, como a que precede o sinal de
                  partida numa corrida importante, com a diferença de ser bem maior.

                         –  Quem  me  dera  que  Aslam  tivesse  aparecido  antes  que  as  coisas
                  chegassem a este ponto! – disse Trumpkin.

                         – Quem dera! – concordou Caça-trufas. – Mas... olhe!

                         –  Com  trinta  diabos!  –  exclamou  o  anão.  –  Quem  é  esta  gente?
                  Criaturas  enormes...  bonitas...  parecem  deuses  e  gigantes  e  deusas.
                  Centenas... milhares! Quem serão?
                         –  São  hamadríades, dríades  e silvanos – respondeu Caça-Trufas.  –
                  Aslam os despertou.

                         –  Hum!  –  murmurou  o  anão.  —  Não  há  dúvida  de  que  nos  serão
                  muito úteis, caso o inimigo tente atraiçoar-nos. Mas não há ajuda que valha
                  ao Grande Rei, se Miraz se mostrar mais hábil do que ele no manejo da
                  espada.

                         O texugo não respondeu, porque nesse momento Pedro e Miraz, de
                  cotas de malha, elmos e escudos, entravam a pé na arena, vindos de lados
                  opostos. Cruzaram-se numa saudação e pareceram trocar algumas palavras,
                  que ninguém conseguiu entender. Logo depois, as espadas flamejavam ao
                  sol. Apenas por um instante se ouviu o tinir do metal, logo abafado pelos
                  partidários  de  ambos  os  lados,  que  gritavam  como  se  estivessem  numa
                  partida de futebol.
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