Page 397 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Vá-se embora, Ripchip, seu palerma! – gritou Pedro. – Isto não é
                  lugar para ratos. Você vai acabar sendo morto.

                         Mas os ridículos animaizinhos continuaram a saltar de um lado para
                  outro,  espada  na  mão,  entre  os  pés  dos  combatentes.  Nesse  dia,  muitos
                  telmarinos

                         julgaram  ter  assentado  o  pé  de  repente  numa  dúzia  de  espetos,
                  tentaram equilibrar-se numa perna só, amaldiçoando a dor, e muitas vezes
                  acabaram por cair. Se caíam, os ratos acabavam com eles; se não caíam,
                  alguém aparecia para resolver o caso.

                         Ainda  os  narnianos  não  tinham  propriamente  organizado  o  ataque,
                  quando  verificaram  que  o  inimigo  cedia.  Guerreiros  terríveis  ficaram  de
                  repente brancos feito cal e, de olhos esbugalhados, fixavam não os antigos
                  narnianos, mas alguma coisa que estava por detrás deles. Deixaram cair as
                  armas e gritaram:
                         – O bosque! O bosque! É o fim do mundo!

                         Não  demorou  que  seus gritos  e o  tinir  das  armas  fossem  abafados
                  pelo rugir oceânico das árvores despertas, que se infiltravam pelas fileiras
                  de Pedro e continuavam em perseguição aos telmarinos.

                         Você  já  viu  algum  dia  uma  grande  floresta  atacada  por  um  vento
                  furioso? Imagine o rugir do vento. Imagine também que a floresta não está
                  imóvel, mas se precipita para você, e que já não é feita de árvores, mas de
                  gente. Homens enormes, mas semelhantes a árvores, porque os braços que
                  agitam  parecem  ramos,  e,  sacudindo  a  cabeça,  deixam  cair  à  volta  uma
                  chuva de folhas.

                         Foi  a  sensação  que  tiveram  os  telmarinos.  A  verdade  é  que  o
                  espetáculo  era  um  tanto  alarmante,  mesmo  para  os  narnianos.  Dentro  de
                  instantes, todos os homens de Miraz fugiam em direção ao Grande Rio, na
                  esperança  de  atravessarem  a  ponte  para  a  cidade  de  Beruna  e  aí  se
                  defenderem, ao abrigo de barricadas e portões fechados.

                         Chegaram  de  fato  ao  rio,  mas  não  encontraram  a  ponte,  que  tinha
                  desaparecido na véspera. Tomados de pânico, todos se renderam.
                         Mas o que acontecera à ponte?

                         Naquela  manhã,  bem  cedinho,  as  meninas,  ao  despertar,  ouviram
                  Aslam dizer:

                         – Hoje é dia de festa!

                         Esfregaram os olhos e olharam em redor. As árvores ainda podiam
                  ser vistas ao longe, avançando para o Monte de Aslam, em mancha escura e
                  maciça.  Baco,  as  mênades  (suas  loucas  e  estouvadas  companheiras)  e
                  Sileno  tinham  ficado.  Lúcia,  já  refeita,  levantou-se.  Todos  estavam
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