Page 595 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Ouvi um deles dizendo isso.

                         – Já vi tudo! – exclamou Jill. – Devemos fingir que não pensamos
                  noutra  coisa.  É  ficar  perguntando  sobre a  festa  o  tempo  todo,  encher  de
                  perguntar. Eles vão pensar que somos mesmo crianças, e assim ficará mais
                  fácil.

                         O paulama suspirou:

                         –  Alegres!  É  isso:  devemos  bancar  os  alegrões!  Como  se  não
                  tivéssemos a menor preocupação. Os brincalhões. Vocês dois nem sempre
                  estão de bom humor. Já notei. Eu mostro como é ser alegre. Assim, ó... – E
                  fez  uma  cara  sinistra  de  enterro.  –  Se  prestarem  atenção  em  mim,  não
                  custarão a aprender. Aliás, eles já me acham muito divertido, é ou não é?
                  Também vocês, aposto que me acharam um tiquinho bêbado ontem... Pois
                  dou minha palavra que eu estava... bem, em grande parte... representando.
                  Senti que isso de algum modo poderia ter utilidade.
                         As  crianças,  ao  se  referirem  mais  tarde  a  essas  aventuras,  nunca
                  tiveram certeza de que a afirmação de Brejeiro fora realmente sincera. Mas
                  estavam certas de uma coisa: na hora, Brejeiro estava crente de que dizia a
                  verdade.

                         –  Perfeitamente:  alegria  é  a  palavra  de  ordem  –  arrematou
                  Eustáquio. – No momento, o problema é encontrar alguém que abra aquela
                  porta.  Enquanto  estivermos  representando  e  bancando  os  inocentes,
                  devemos descobrir tudo o que for possível.

                         Nesse  exato  instante  a  porta  se  abriu.  A  ama  entrou  toda
                  espalhafatosa:

                         – Então, meus bonecos, que tal ir ver o rei e sua corte partirem para a
                  caça? É uma beleza!

                         Não  perderam  tempo:  deixando  a  ama  no  quarto,  desceram  a
                  primeira escada que apareceu. Pelo barulho dos cães de caça, das trompas e
                  das  vozes  gigantescas,  acharam  logo  o  caminho  do  pátio.  Os  gigantes
                  estavam a pé, pois não há cavalos gigantes naquelas bandas do mundo. Os
                  cães  eram  do  tamanho  comum.  Jill,  não  encontrando  cavalos,  ficou  a
                  princípio  muito  decepcionada,  pois  sabia  que  a  rainha  gordalhona  de
                  maneira  alguma  participaria  de  uma  caçada  a  pé,  e  não  seria  nada
                  promissor tê-la em casa o dia todo. Mas, em seguida, viu a rainha recostada
                  numa espécie de liteira sobre os ombros de seis jovens gigantes.
                         Vinte ou trinta gigantes, inclusive o rei, estavam reunidos, prontos
                  para a caça, falando e rindo numa algazarra de ensurdecer. A altura de Jill,
                  mexendo os rabinhos, latindo, fungando, estavam os cachorros.
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