Page 590 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Espero que você não fique desapontado com Jill se eu lhe disser que,
                  nesse momento, ela começou a chorar! Tinha seus motivos, coitada: seus
                  pés,  mãos,  orelhas  e  nariz  estavam  começando  a  degelar;  neve  derretida
                  encharcava  suas  roupas;  não  tinha  comido  praticamente  nada  durante
                  aquele dia; e as pernas doíam tanto que ela mal se agüentava em pé. De
                  qualquer  modo,  parece  que  foi  o  melhor  que  poderia  ter  feito  naquele
                  momento, pois a rainha interveio:

                         –  Ah,  coitadinha!  Senhor  meu  rei,  é  uma  maldade  o  que  estamos
                  fazendo  com  nossos  hóspedes,  deixando-os  aqui  em  pé.  Servos!  Levem-
                  nos. Precisam de comida, de vinho e de banho. Consolem a menininha com
                  pirulitos e bonecas, tudo o que for bom – morangos com creme, bombons,
                  passas,  cantigas  de  ninar,  brinquedos.  Não  chore,  meu  benzinho,  você
                  assim vai ficar feia para a Festa do Outono.

                         Jill ficou indignada com aquela referência aos brinquedos. E, embora
                  bombons e morangos com creme não fossem nada maus, torceu para que
                  alguma coisa mais substanciosa fosse servida. Mas a intervenção gaiata da
                  rainha  deu  excelentes  resultados,  pois  Brejeiro  e  Eustáquio  foram
                  imediatamente erguidos por serviçais; coube a Jill uma gigantesca dama de
                  honra. Foram carregados para os quartos.

                         O de Jill era mais ou menos do tamanho de uma igreja e seria mesmo
                  um  pouco  sombrio  se  não  dispusesse  de  uma  crepitante  lareira  e  de  um
                  grosso  tapete  escarlate.  Coisas  deliciosas  começaram  a  acontecer.  Foi
                  entregue aos cuidados da velha ama da rainha, que, do ponto de vista dos
                  gigantes, era só uma mulherzinha vergada pelo tempo; do ponto de vista
                  humano, era uma giganta que não chegava a bater com a cabeça no teto.
                  Eficiente era, e muito. Jill só ficou desejando que ela parasse de falar coisas
                  assim:  “Que  bebê  mais  lindo!”  –  “Levante  o  bracinho.”  –  “Mais  um
                  instantinho só, minha bonequinha adorada.”

                         Ajudou a colocar Jill na banheira. Felizmente a menina sabia nadar e
                  aproveitou ao máximo o banho tépido. Quanto às toalhas gigantescas, por
                  um pouquinho ásperas que sejam, também valem a pena, pois são metros e
                  metros de pano. Nem é necessário enxugar-se nelas: basta enrolar-se e ir
                  aproveitar  as  delícias  da  lareira.  As  roupas  que  ela  vestiu,  limpas,
                  quentinhas e lindas, eram meio grandes, mas, sem dúvida nenhuma, tinham
                  sido talhadas para gente humana e não para gigantes. O que fez Jill pensar:
                  “Se  a  Dama  do  Vestido  Verde  freqüenta  o  palácio,  eles  devem  estar
                  acostumados com hóspedes do nosso tamanho.”

                         Viu  pouco  depois  que  estava  certa  a  esse  respeito,  pois  mesa  e
                  cadeira  de  dimensões  normais  para  uma  criatura  humana  adulta  foram
                  trazidas  para  ela;  garfos,  facas  e  colheres  eram  igualmente  da  medida
                  humana.
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