Page 586 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 586

–  Agora,  agüentem  a  mão.  Não  mostrem  sinal  de  medo,  de  jeito
                  nenhum. Já fizemos a coisa mais imbecil do mundo vindo até aqui. Mas...
                  já que aqui estamos, temos de fazer cara de valentes.

                         Com  essas  palavras  o  paulama  parou  debaixo  do  arco  do  portão,
                  onde o eco poderia dar uma ajuda a sua voz, e gritou com o resto de suas
                  energias:

                         – Ei! Porteiro! Gente buscando pousada!

                         Enquanto  esperava  que  alguma  coisa  acontecesse,  tirou  o  chapéu,
                  sacudindo da aba uma grossa camada de neve. Eustáquio cochichou para
                  Jill :
                         – Ele pode ser um pé-frio... mas não há dúvida de que é ousado.

                         Abriu-se a porta, deixando passar um delicioso brilho de fogo, e o
                  porteiro apareceu. Jill mordeu os lábios para não dar um berro. Não era um
                  gigante  propriamente  enorme,  quer  dizer,  era  mais  alto  do  que  uma
                  macieira, mas menor do que um poste. Cabelos vermelhos, eriçados, uma
                  túnica de couro com aplicações de metal, joelhos de fora (muito cabeludos)
                  e coisas parecidas com perneiras. Inclinando-se, esbugalhou os olhos para
                  Brejeiro:

                         – E que tipo de criatura é essa?

                         Jill tomou coragem, gritando para o gigante:

                         – A Dama do Vestido Verde saúda o rei dos gigantes amáveis: aqui
                  manda duas crianças do Sul e este paulama (o nome dele é Brejeiro) para a
                  Festa do Outono. Caso não haja, é claro, alguma inconveniência...
                         – Oooh! – respondeu o porteiro. – Agora é outra história. Entrem,
                  pequeninos,  entrem,  por  favor.  Fiquem  na  portaria  enquanto  mando  um
                  recado para Sua Majestade.

                         E olhou para as crianças com curiosidade, acrescentando:

                         – Caras azuis... Não sabia que existiam caras dessa cor.

                         – Nossa cara está azul assim é de frio – disse Jill. – Essa não é a
                  nossa cor de verdade.
                         – Então entrem e se aqueçam. Entrem, camarõezinhos.

                         A  porta  fechou-se  atrás,  e  isso  não  foi  nada  agradável;  mas  tudo
                  esqueceram ao depararem com o que mais desejavam ver desde a ceia da
                  noite anterior – uma lareira! E que lareira! Era como se quatro ou cinco
                  árvores  inteiras  ardessem  lá  dentro,  tão  quente  que  não  foi  possível  dar
                  mais do que uns passos. Deixaram-se cair pesadamente no chão de tijolos,
                  dando grandes suspiros de alívio.
   581   582   583   584   585   586   587   588   589   590   591