Page 582 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 582

7


                                   A COLINA DOS FOSSOS ESTRANHOS







                         É  inegável  que  foi  um  dia  pavoroso.  No  alto,  um  céu  sem  sol,
                  abafado  por  nuvens  pesadas  de  neve;  embaixo,  uma  geada  escura,  e  um
                  vento  que  soprava  como  se  fosse  arrancar-lhes  a  pele.  Ao  chegarem  à
                  planície, perceberam que esse trecho da velha estrada estava em condições
                  muito  piores.  Tinham  de  achar  passagem  entre  grandes  blocos  partidos,
                  entre  calhaus  e  pedregulhos.  Dura  caminhada  para  pés  doloridos.  E,  por
                  mais cansados que ficassem, o frio era demais para um descanso.

                         Lá pelas dez horas os primeiros flocos miúdos começaram a cair nos
                  braços de Jill. Dez minutos mais tarde caíam com mais intensidade. Mais
                  vinte  minutos  e  o  chão  ficara  branco.  No  fim  de  meia  hora,  uma  boa
                  tempestade  de  neve  fustigava-os,  ofuscando-lhes  a  visão  e  prometendo
                  durar o dia todo.
                         Para que se entenda bem o que se segue, é preciso lembrar que eles
                  não enxergavam quase nada. E não tinham nenhuma visão panorâmica da
                  colina  que  os  separava  do  lugar  onde  as  janelas  iluminadas  haviam
                  aparecido.  Tudo  o  que  conseguiam  enxergar  eram  uns  passos  adiante,  e
                  assim mesmo arregalando os olhos. Desnecessário dizer que seguiam em
                  silêncio.

                         Quando atingiram o sopé da colina, perceberam qualquer coisa como
                  rochas de ambos os lados. Se tivessem olhado atentamente, o que ninguém
                  fez,  teriam  notado  que  se  tratava  de  pedras  quadradas.  Estavam  todos
                  atentos a um rebordo que lhes barrava o caminho. Devia ter mais de um
                  metro.  O  paulama,  com  suas pernas  compridas,  não teve dificuldades de
                  subir  o  obstáculo,  ajudando  depois  os  outros  –  um  problema  para  estes,
                  pois a neve acumulava-se sobre o ressalto. Avançaram com dificuldade –
                  Jill caiu uma vez – por uma extensão de uns cem metros, chegando a um
                  segundo rebordo. Havia quatro deles a intervalos bastante irregulares.

                         Quando se esforçavam para transpor o quarto, não tiveram dúvida de
                  que haviam alcançado a chapada da colina. Até ali a própria encosta servia-
                  lhes  de  certa  proteção;  agora  pegavam  de  cara  o  vento  furioso.  Pois  a
                  colina,  por  estranho  que  possa  parecer,  era  mesmo  tão  plana  quanto
                  parecera  ao  longe:  como  se  fosse  uma  mesa  enorme  açoitada  à  vontade
                  pelo temporal. Em muitos lugares o gelo ainda não estava bem assentado, e
   577   578   579   580   581   582   583   584   585   586   587