Page 587 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Garoto! – disse o porteiro para um gigante que estava sentado no
fundo da sala com os olhos a saltar das órbitas. – Leve correndo esta
mensagem ao aposento real. – E repetiu as palavras de Jill.
O jovem gigante, depois de dar uma olhada final nas crianças e soltar
uma grande risada, saiu correndo. O porteiro dirigiu-se ao paulama:
– Cá para nós, seu Sapo, acho que você está querendo algo
quentinho. — E apareceu com uma garrafa preta muito parecida com a do
próprio Brejeiro, só que vinte vezes maior. – Espere aí, espere aí. Se eu lhe
der um cálice você vai morrer afogado. Espere aí. Este pequeno saleiro vai
resolver. Mas não comente isso lá dentro.
O saleiro não se parecia muito com os nossos e serviu bem como
cálice, ao ser colocado no chão do lado de Brejeiro. As crianças achavam
que este ia recusar, tal era sua falta de confiança nos gigantes amáveis.
Porém ele murmurou:
– É tarde demais para tomar precauções, agora que estamos presos
aqui dentro. – E cheirou a bebida. – Não cheira mal. Mas isso não quer
dizer nada. Melhor provar. – Deu uma golada. – Bom. Mas pode ser só o
primeiro golpe. – Deu uma golada maior. – Ah! Será a mesma coisa até o
fim? – Outra golada. – Lá no fundo deve ser horrível, é claro. – E bebeu o
resto. Lambeu os beiços e observou para as crianças: – Isso é um teste,
estão entendendo? Se eu ficar torto, ou estourar, ou virar lagartixa, ou
qualquer coisa parecida, aí vocês não devem aceitar nada aqui dentro.
O gigante, que estava muito em cima para ouvir os cochichos de
Brejeiro, deu uma gargalhada gigantesca e disse:
– Boa, seu Sapo, bebeu feito um homem!
– Homem coisa nenhuma! Paulama! – respondeu Brejeiro numa voz
meio sumida. – E nem sapo! Paulama!
A porta abriu-se e o jovem gigante entrou:
– Eles devem ir imediatamente para a sala do trono.
As crianças puseram-se de pé, mas Brejeiro permaneceu sentado, a
resmungar:
– Paulama. Paulama. Um paulama de respeito. Um paulespeito.
– Mostre a eles o caminho, garoto – disse o porteiro. – É melhor
carregar o seu Sapo. Ele bebeu um pouco mais do que podia.
– Bebi coisa nenhuma! Estou bem – protestou Brejeiro. – Sapo coisa
nenhuma! Paulespeito.
Mas o jovem gigante o agarrou pela cintura e fez sinal para que as
crianças o seguissem. Assim, sem muita dignidade, cruzaram o pátio.