Page 589 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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A CASA DE HARFANG
– Vá em frente, Jill, e faça o que é preciso – murmurou Eustáquio.
Ela estava com a boca tão seca que não pôde articular uma palavra.
Acenou rispidamente com a cabeça apontando para Eustáquio.
Achando que jamais a perdoaria, Eustáquio passou a língua nos
lábios e gritou para o rei gigante:
– Com licença de Vossa Majestade, a Dama do Vestido Verde, por
intermédio de nós, manda saudações e diz que Vossa Majestade apreciaria
a nossa participação na Festa do Outono.
O rei e a rainha olharam um para o outro com um ar de inteligência e
sorriram de um jeito que não foi do total agrado de Jill. Estava gostando
mais do rei que da rainha. Ele usava uma bela barba encaracolada, tinha um
nariz de águia e, para um gigante, sua aparência até que era boa. A rainha
era horrendamente gorda, tinha um queixo gordo e duplo e uma cara gorda
toda empoada – o que normalmente já não é bonito, ficando dez vezes pior
numa pessoa dez vezes maior. O rei botou a língua de fora e lambeu os
beiços. Todo mundo faz isso: acontece porém que a língua dele era tão
grande e vermelha, e pulou para fora tão inesperadamente, que a pobre Jill
levou um susto.
– Oh, que boas crianças! – disse a rainha. “Vai ver, ela é que é
simpática”, pensou Jill.
– Verdade, verdade! – replicou o rei. – Excelentes, excelentes
crianças! São bem-vindas à minha corte. Apertem a minha mão.
Estendeu a mãozona, muito limpa e cheia de anéis, mostrando, no
entanto, umas unhas pontudas. Não foi possível um aperto de mão.
– E que coisa é esta? – perguntou o rei, mostrando Brejeiro.
– Res..pei..to..la..ma – protestou Brejeiro.
– Oh! – gritou a rainha, juntando a saia até os tornozelos. – Que
coisa mais horrível! Está viva!
– É uma pessoa de bem, Majestade, dou-lhe a minha palavra –
interveio Eustáquio, afobado. – Gostará mais dele quando o conhecer
melhor. Tenho certeza.