Page 594 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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gruta ou um túnel; teríamos encontrado alguém que nos ajudasse. Pode ser
                  que até o próprio Aslam, quem sabe. O fato é que a gente teria entrado de
                  qualquer maneira debaixo daquelas pedras. As instruções de Aslam sempre
                  funcionam: nunca houve uma exceção. Como fazer isso agora, é um caso
                  completamente diferente.

                         Jill falou:

                         – Bem, já que é assim, acho que temos de voltar...

                         –  Facílimo!  –  ironizou  Brejeiro.  –  Para  começar,  é  só  tentar  abrir
                  aquela porta...
                         Olharam todos para a porta e viram logo que nenhum deles poderia
                  alcançar a maçaneta. E, mesmo que pudesse, não iria ter força suficiente
                  para virá-la.

                         – Quem sabe eles nos deixam sair... se pedirmos? – disse Jill.

                         Ninguém  respondeu  nada,  mas  todos  pensaram:  “E  se  não
                  deixarem?”

                         Não era uma idéia simpática. Brejeiro tinha verdadeira repulsa por
                  qualquer idéia que os levasse a contar aos gigantes o verdadeiro motivo da
                  sua visita. Sem contar, não teriam decerto permissão para ir lá fora. Contar
                  não podiam, por causa da promessa. E todos concordavam que não haveria
                  jeito  de  escapar  do  castelo  durante  a  noite.  Com  as  portas  dos  quartos
                  fechadas, seriam prisioneiros até o amanhecer. Poderiam, é claro, pedir que
                  deixassem a porta aberta, mas isso iria despertar suspeitas.

                         – Nossa única chance – disse Eustáquio – é tentar cair fora durante o
                  dia. Será que os gigantes não gostam de tirar uma soneca durante a tarde?
                  Será que na cozinha não existe uma portinha aberta?
                         –  Isso  não  é  bem  o  que  eu  chamo  de  uma  chance  –  replicou  o
                  paulama. – Mas é a única que temos.

                         Na verdade, o plano de Eustáquio não era tão despropositado quanto
                  se pode pensar. Se a gente pretende sair de uma casa sem ser visto, durante
                  a tarde é de certo modo melhor do que durante a noite. É mais provável
                  encontrar  janelas  e  portas  abertas.  Se  você  for  apanhado,  sempre  pode
                  fingir que não pretende ir longe e que está aí à toa. Mas é muito difícil fazer
                  um gigante ou uma pessoa» grande acreditar nisso, se você for apanhado
                  em cima da janela depois da meia-noite.

                         – Temos primeiro de desfazer as desconfianças

                         – falou Eustáquio. – Devemos fingir que adoramos estar aqui e que
                  estamos ansiosos pela Festa do Outono.

                         – A festa é amanhã à noite – informou Brejeiro.
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