Page 583 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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o vento atirava-lhes punhados de neve no rosto. Piorando tudo, a superfície
era cruzada e entrecruzada de valas, que precisavam ser transpostas.
Lutando valentemente, capuz na cabeça abaixada, mãos enfiadas no
capote, Jill percebia outras coisas estranhas no alto da colina – coisas à
direita e à esquerda, que lembravam vagamente chaminés de fábricas e
penhascos mais eretos do que os penhascos devem ser. Mas não estava nem
um pouco interessada e não deu a isso a menor atenção. Só pensava nas
próprias mãos enregeladas (no nariz, nas orelhas, no queixo) e em banhos
quentes e camas em Harfang.
De repente escorregou, deslizando, horrorizada, por uma fenda
escura e estreita. Menos de um segundo depois, havia chegado ao fundo de
uma espécie de trincheira ou fosso de um metro de largura. Apesar de
estremecida pela queda, uma das primeiras coisas que sentiu foi alívio, pois
livrara-se da ventania, protegida pelas paredes do fosso. Notou em seguida,
é claro, as expressões aflitas de Eustáquio e Brejeiro, com os olhos
arregalados lá em cima.
– Está machucada, Jill ? – gritou Eustáquio.
– No mínimo com as duas pernas quebradas – berrou Brejeiro.
Jill se pôs em pé e explicou que estava bem, mas teriam de dar-lhe
um puxão para sair do buraco.
– Onde você caiu? – perguntou Eustáquio.
– Numa espécie de fosso, talvez numa espécie de corredor ou coisa
parecida.
– E a coisa vai para o norte – falou Eustáquio.
– Será um caminho? Se for, a gente se livra deste vento maldito. Há
muita neve aí no fundo?
– Muito pouca.
– O que existe mais na frente?
– Um segundinho. Vou dar uma espiada – disse Jill, avançando ao
longo do fosso. A passagem virava-se bruscamente para a direita.
– Aonde vai dar essa curva?
Mas Jill não sentia a menor vontade de percorrer escuros labirintos
subterrâneos, sobretudo depois de ouvir a voz de Brejeiro:
– Cuidado, Jill. Este lugar está com cara de caverna de dragão. Além
disso, em terra de gigantes devem existir minhocas gigantescas ou
gigantescas baratas.